Respeitar e reconhecer as necessidades das crianças e exigir seu espaço na vida delas são alguns dos desafios da paternidade moderna. O tempo e as mudanças de comportamento apontam que a criação dos filhos só pela mãe já não é mais absoluta. Mas, assim como a maternidade, a paternidade também tem suas características de adequação. A prova disso são as crianças adotas por casais homossexuais chegando à escola. Todas tratadas com tanto carinho e amor, mudando a dinâmica das famílias – pai e pai – mãe e mãe – pai e mãe – não importa, o que importa de fato é que nós, educadores, temos o dever de auxiliar nessa adaptação, receber as crianças e adolescentes com respeito, afeto e sem discriminação.
Dizem os pesquisadores que ainda temos resquícios de uma educação que nos ensinou que a responsável pelos filhos é a mãe. Mas, aos poucos, os pais, eles, começam a deixar o papel de provedor exclusivo para serem participantes ativos na vida das crianças. Nosso termômetro é a reunião de pais e mestres na escola. Já existe uma participação muito maior dos pais hoje. Contudo, assim como não existe uma mãe ideal, tampouco existe um modelo de pai.
A participação ativa dos pais passa pela rotina dos filhos. Dar atenção a eles só quando chega o boletim da escola não vale: é preciso se aproximar do cotidiano dos filhos. Quem assume o papel de pai deve participar como quem vai dar o limite, quem vai estimular e elogiar, quem vai acompanhar sua criação.
Os psicólogos são quase unânimes em afirmar que cinco minutos por dia já podem fazer a diferença para o desenvolvimento da relação pai e filho. Mas não adianta um dia do mês e, de alguma forma, tentar “tirar o atraso”. A proximidade se constrói aos poucos e é importante para a criança sentir que está sendo valorizada e que pode confiar no pai.
Ao testemunhar um mau comportamento dos filhos, muitos pais se queixam dizendo “Mas não está faltando nada para ele”. Não está faltando nada mesmo? Carinho não pode ser trocado por recompensas. A presença é muito importante e se envolver com os filhos não se resume a levar uma lembrança ou um presente no final do dia, ao voltar do trabalho. Nesse contexto de trocas, muitos pais também confundem masculinidade com falta de afeto e evitam até beijar e abraçar os filhos. O pai pode e deve mostrar o amor que sente com interação física, inclusive durante as brincadeiras, o que é essencial enquanto eles são crianças. Às vezes, o pai prefere não brincar de boneca com a filha, por exemplo, porque fica constrangido, mas é preciso se adaptar e desenvolver a interação mais pessoal – ficar somente no computador e no videogame não é uma solução. A criança precisa de afeto.
Quanto à autoridade, muitos homens ainda confundem autoritarismo com masculinidade e se tornam pais que se impõe por meio do berro e da ameaça. A imposição deve ser evitada, não existe regra por regra. Fazer algo porque o pai mandou, na cabeça da criança não faz nenhum sentido. É preciso justificar a autoridade com mensagens de desenvolvimento humano e carinho. A autoridade impede os filhos de expressarem sentimentos e pensamentos com facilidade, pois eles não se sentem respeitados e acabam se fechando, criando uma distância. Ou seja, limites devem ser construídos no dia a dia com afeto.
Na contramão dos pais autoritários estão os pais permissivos. Embora afetuosos, eles não se dispõem a estabelecer limites para os filhos e terminam sendo ausentes. O pai demasiadamente permissivo deixa de se posicionar e prefere deixar o filho fazer tudo o que quer. Trata-se daquele pai que costuma dizer: ‘vê com a sua mãe’ e nunca toma as decisões. Transferir a responsabilidade para mãe é sinal de ausência. O erro mais recorrente dos pais é não tomar uma postura em relação à educação dos filhos. A ausência, a falta de posicionamento e de autoridade são uma carência muito forte, principalmente quando os filhos são crianças. Essa regra vale não só para a hora de tomar decisões, mas também para os afazeres miúdos e os cuidados do dia a dia, como o banho, a comida e as brincadeiras. Até porque as modalidades de diversão e aprendizagem da mãe costumam ser diferentes da do pai. Resumindo, seja decisão concreta ou situação lúdica, deve vir dos dois.
Um elemento importante é o espaço. A mãe deve dar espaço para a entrada do pai na vida dos filhos. Às vezes ela não acredita muito na capacidade do pai de cuidar, principalmente de crianças. Porém, a figura masculina é importante e deve atuar em colaboração com a mãe até nas pequenas coisas, trocando opiniões sem que um desautorize o outro.
Os exemplos de comportamento são, além de importantes, fundamentais. Ou seja, um bom pai é também um bom marido e um bom cidadão. Todo o ambiente ao redor da criança influencia na formação dela e a figura do pai conta muito. Para os filhos crescerem da melhor maneira possível, os pais devem ser maduros emocionalmente, tanto o homem quanto a mulher precisam saber quais são os próprios valores diante de uma sociedade que muitas vezes os leva a conhecer pouco sobre si mesmos e a serem negligentes, competitivos, preconceituosos e consumistas.
Para completar, o mais importante dos exemplos: para ser um bom pai é preciso primeiro ser um bom ser humano.
Fonte: Sueli Conte – Psicopedagoga e Diretora do Colégio Renovação