A quimioterapia e a radioterapia podem causar infertilidade porque ao mesmo tempo em destroem as células tumorais também podem atingir as células germinativas, as mesmas que dão origem aos óvulos e espermatozoides. Fatores como o tipo de câncer tratado, a idade do paciente, o potencial fértil da pessoa antes do tratamento e o tipo de quimioterapia e radioterapia utilizadas devem ser considerados no momento de avaliar quanto, exatamente, pode existir de impacto negativo no potencial reprodutivo.
“Os tratamentos oncológicos impedem a proliferação de células em alta multiplicação. Não somente as cancerígenas, mas também as germinativas, que são naturalmente mais sensíveis aos efeitos das substâncias e da radiação aplicadas no paciente para combater o câncer”, observa Dr. Maurício Chehin, médico do Grupo Huntington especialista em reprodução assistida em pacientes oncológicos.
Ele ressalta que, além da infertilidade causada por esses tratamentos, os cânceres que se manifestam nas regiões pélvicas também podem facilitar esse efeito colateral. Em outros casos, porém, se uma paciente apresenta um câncer fora da região pélvica tratável apenas por radioterapia, por exemplo, é possível que ela não desenvolva infertilidade uma vez que o local atingido pela radiação esteja afastado dos órgãos reprodutores. “Os casos devem ser analisados individualmente”, observa.
Pacientes já possuem alternativas e podem pensar em preservação
A idealizadora e escritora do blog Quimioterapia e Beleza Flávia Flores, que passou recentemente por um tratamento de câncer de mama, fala sobre a importância de encarar o problema de frente e ir atrás dos sonhos quando o assunto é a maternidade. “Quando descobrimos a doença ficamos com medo, mas hoje o câncer possui altos índices de cura. Por isso, se ter filhos é um objetivo, é essencial pensar nisso e se resguardar para concretizá-lo posteriormente. Felizmente a medicina reprodutiva já possui algumas soluções”, comenta.
Para conseguir realizar o sonho de ter filhos após a cura da doença, pacientes oncológicos já contam com diversas alternativas que preservam a fertilidade antes da quimioterapia e radioterapia. “A técnica mais comum e não menos eficaz de se preservar a fertilidade é o congelamento ou criopreservação de óvulos, espermatozoides e também de embriões”, lembra Flávia.
O Dr. Maurício conta que existem também algumas alternativas ainda em fase de experimentação, como é o caso da criopreservação do tecido testicular ou ovariano. O método consiste em retirar um pequeno fragmento desses tecidos e congelá-los para um transplante posterior, no próprio organismo. A alternativa poderia ser indicada, por exemplo, para mulheres que não podem esperar quinze dias para a coleta de óvulos e devem iniciar o tratamento imediatamente. O tecido reimplantado teria a capacidade de se reproduzir e originar novas células reprodutivas.
“Outro meio, ainda de eficácia discutível, é a supressão ovariana. Através da medicação com o hormônio análogo agonista do GnRH, é possível fazer com que os folículos que liberam os óvulos entrem em uma espécie de hibernação, retardando a divisão celular e, a princípio, evitando com que a quimioterapia ou a radioterapia tenham algum efeito sobre as funções reprodutivas”, esclarece o médico.