Progesterona, estrógeno, prolactina,ocitocina, hCG… Esses são apenas alguns dos inúmeros hormônios envolvidos no processo da reprodução humana sob o aspecto feminino. Desde a adolescência, os hormônios começam a agir preparando o corpo da mulher para a gestação, o parto e a amamentação.
Não é à toa que um número considerável de mulheres que têm dificuldade de engravidar ou que sofrem abortos de repetição é diagnosticado com algum tipo de deficiência hormonal. Se a dança dos hormônios não estiver afinada, a possibilidade de fracasso no processo reprodutivo é grande.
Apesar de essenciais, os hormônios também podem ser considerados vilões quando se trata das alterações que causam no corpo da mulher durante a gravidez. De prisão de ventre a edemas, passando por problemas de pele e depressão, grande parte dos incômodos enfrentados pela gestante é causada por eles.
Sempre Materna conversou com o obstetra Antonio Guilherme Moreira Porto, professor livre docente de Obstetrícia na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que esclarece a ação dos hormônios no corpo da mulher antes, durante e depois do parto.
Como os hormônios estrógeno e progesterona se comportam durante um ciclo menstrual normal? E qual sua importância na preparação do corpo da mulher para a concepção?
No início da adolescência, por volta dos 9 anos de idade, os ovários da menina têm cerca de 500 mil a 600 mil folículos inativos que são chamados primordiais. Devido ao estímulo de hormônios (FSH e LH) produzidos no eixo hipotálamo-hipófise, os folículos começam a se desenvolver e a produzir hormônios femininos – estrógeno e progesterona – e calcula-se que em cada ciclo menstrual há um gasto de mil folículos. No início da puberdade, a produção de estrógeno será responsável pela telarca (crescimento da mamas), pubarca (crescimento dos pêlos pubianos, junto com os andrógenos), menarca (primeira menstruação) e pela distribuição harmônica e graciosa das gorduras no corpo definindo o fenótipo feminino. A ovulação, que representa a liberação do gameta feminino para fecundação, aparece após um determinado período da pós-menarca e se caracteriza pela formação do corpo lúteo com produção de progesterona; assim, na primeira fase do ciclo menstrual temos apenas a produção ovariana de estrógeno e na segunda fase a de estrógeno mais progesterona. Devemos lembrar que o ovário também produz testosterona que é muito importante para o desenvolvimento de força muscular, sensação de bem estar e para a libido feminina.
Como os hormônios preparam o útero para a gravidez?
A ação combinada do estrógeno e da progesterona através de transformações anatômicas e imunológicas prepara o útero para receber o ovo fecundado. A principal modificação ocorre no endométrio (camada que reveste a parede interna do útero), que sofre espessamento (hipertrofia) e desenvolve exuberante vascularização garantindo a nutrição e o crescimento do embrião como também confere proteção materna contra a invasão do trofoblasto (futura placenta), que possui grande capacidade destrutiva no tecido materno. Ressaltamos a influência hormonal sobre a atividade imunológica materna ajudando na aceitação e na sobrevida do feto no útero, pois não devemos esquecer que metade dos componentes fetais é antigenicamente relacionado ao pai. O principal fator determinante da aceitação imunológica está relacionado à peculiaridade imunológica do trofoblasto (imunoincompetência) Não devemos esquecer que a boa evolução da gravidez depende da função tireoidiana, sendo obrigatória a pesquisa de hipotireoidismo com a dosagem do TSH (hormônio tireotrófico).
Qual a importância do hormônio hCG que é solicitado para diagnóstico de gravidez?
Para a boa evolução da gravidez é necessário que o corpo lúteo continue funcionando, isto é, produzindo estrógeno e progesterona, e esse comando se faz pela ação do hormônio mais específico da gravidez: a gonadotrofina coriônica humana (hCG), produzida pelo trofoblasto. Os testes de gravidez, tanto urinários quanto sanguíneos, têm como base a detecção do hCG. A particularidade desse hormônio está no fato de que seus valores se duplicam de cada 24 a 36 horas no primeiro trimestre, indicando assim o bom prognóstico da gravidez.
Quais hormônios são produzidos pela placenta?
A placenta é um verdadeiro laboratório hormonal. Dentre os hormônios protéicos placentários temos o HPL (Hormônio Lactogênio Placentário) e a relaxina. O HPL é responsável pela lipólise (quebra de gordura) aumentando os níveis de ácido graxos livres funcionando como fonte de energia para o metabolismo materno e para o desenvolvimento fetal. Outra ação do HPL é sua atividade antiinsulina, o que explica o fato de a gravidez ser diabetogênica (favorece o aparecimento de diabete, chamado gestacional). A finalidade dessa ação é aumentar os níveis maternos de glicose que passa facilmente para a circulação fetal e representa a principal fonte de energia e alimentação do feto. A relaxina promove o relaxamento do miométrio durante a gravidez e parece ter ação no nível das articulações ósseas, aumentando a flexibilidade articular, sendo a responsável pelas habituais e constantes quedas e torções sofridas pela gestante.
Quais alterações maternas estão relacionadas aos hormônios?
Podemos afirmar que a gravidez testa os limites das funções orgânicas da mulher, com necessidades cada vez maiores com o avançar da idade gestacional. Pela ação hormonal há sobrecarga cardíaca devido ao aumento do volume de sangue circulante (+50%), ocorre diminuição na velocidade do esvaziamento gástrico e a digestão fica mais lenta, há maior chance de aparecer prisão de ventre, encontramos maior estase venosa com edema principalmente em membros inferiores e após a metade da gravidez aparece uma resistência progressiva à insulina, com maior chance de se desenvolver diabetes, principalmente nas mulheres com antecedentes familiares e nas obesas. A ação hormonal é marcante na pele da gestante, os estrógenos facilitam o aparecimento de hipertricose (penugem) no rosto e nas costas, o hormônio melanotrófico fica aumentado e a exposição da gestante aos raios solares favorece a hiperpigmentação da pele com desenvolvimento do cloasma gravídico e da chamada linha nigra do abdome. Outra ação hormonal sobre a pele é o aparecimento das estrias devido a somatória do efeito do estrógeno e da progesterona com o cortisol que alteram as fibras elásticas da pele. Vale também ressaltar as importantes modificações emocionais, com evolução para quadros depressivos principalmente no período pós-parto.
Qual o hormônio responsável pelo início do trabalho de parto e como ele age até o término da expulsão do bebê?
Durante a gravidez o útero deve ficar o mais relaxado possível e para esse objetivo é fundamental o papel da progesterona. Na fase que antecede o parto aparece um desequilíbrio entre os níveis de estradiol (estrógeno ativo), que aumenta, e da progesterona, que diminui. As prostaglandinas são os principais hormônios responsáveis pelas modificações cervicais, o colo do útero fica mais amolecido e vai se dilatando, tornando-se menos resistente à ação das contrações uterinas. Na fase de trabalho de parto ativo, temos a ação da ocitocina, hormônio produzido no hipotálamo materno e que vai aumentar a freqüência e a intensidade das contrações uterinas, culminando com a expulsão do feto e auxiliando a dequitação (descolamento, descida e expulsão da placenta).
O que acontece com os hormônios exatamente após o parto?
O período pós-parto imediato é caracterizado pela involução uterina, com o miométrio apresentando-se contraído e firme, garantindo assim a hemostasia e a segurança materna. No puerpério tardio há progressiva regressão do útero até que no 12º dia ele atinge o interior da cavidade pélvica e não é mais palpável no abdome. Há uma rápida e intensa queda dos níveis hormonais presentes na gravidez, principalmente dos estrógenos, e esse fato determina as alterações que ocorrem no aparelho genital feminino, como atrofia e ressecamento da mucosa vaginal, que determina sensação dolorosa e desagradável durante o relacionamento sexual. Em geral após 42 dias do parto todos os órgãos e sistemas do organismo feminino retornam às condições pré-gravídicas, com exceção do aparelho genital. os órgãos e sistemas do organismo feminino retornam