Sempre Materna

Antes tarde do que nunca

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Em pleno século XXI, a independência das mulheres reina no mercado de trabalho, em casa, nos estudos, mas, o maravilhoso dom da maternidade acaba sendo adiado. A concorrência mundial, a crise econômica, a banalização da violência e tantos outros problemas sociais preocupam as mulheres quando o assunto é gravidez. Por isso, algumas preferem concretizar o sonho de ser mãe somente após sua estabilização financeira, que costuma ocorrer próximo aos 35 anos de idade.

Nessa fase a mulher está madura, a grande maioria anseia por um filho e está preparada para ir até o fim do mundo para conseguir realizar esse sonho. Entretanto, do ponto de vista clínico o organismo também vai precisar de esforço maior para o processo da gestação. Nosso foco para essa entrevista está nas milhões de mulheres que optam pela vida multidimensional e, por esse motivo, a Sempre Materna entrevistou o obstetra Luiz Fernando Pereira Leite, da Clinnique, em São Paulo, para entender os desafios que as mulheres mais velhas enfrentam em relação à fertilidade, já que o tempo é o coração do problema, o relógio biológico é perfeito e o monstro da infertilidade levanta sua horrível cabeça por volta dos 35 anos.

Não menos importante foi entender com o obstetra que além de conceber, mulheres a partir dessa faixa etária também precisam superar os obstáculos para levar uma gestação a termo, ou seja, próxima das 40 semanas. Mas, a boa notícia é que a medicina acompanhou a modernidade e além de existir meios de ajudar na concepção, a obstetrícia também é fundamental para superar contratempos durante o pré-natal.

 

“O pré-natal bem assistido por equipe multidisciplinar e a integração do pré-natalista com uma excelente maternidade é, sem dúvida, a melhor maneira de conduzir com segurança uma gestantecom mais de 35 anos a realizar seu sonho de ser mãe”

 

Baseado na sua experiência clínica, quais os principais fatores que fazem as mulheres adiarem o sonho da maternidade?
Hoje em dia, como o nosso mundo é muito capitalista e competitivo, as mulheres inicialmente vão ao mercado de trabalho para conquistar seus espaços, passando assim para segundo ou terceiro plano o sonho de ser mãe.

Há idade ideal para engravidar?
A fase boa para a maternidade é entre 25 e 35 anos. Porém, atualmente, consideramos o ideal até 40 anos de idade.

Quais os prejuízos da gravidez após os 35 anos?
Após os 35 anos as pacientes devem ser orientadas sobre as possíveis complicações fetais, devido ao risco de alterações cromossômicas, partos prematuros, crescimento fetal restrito e alterações associadas a patologias de base, por exemplo, as da tireóide.

E é uma gravidez de alto risco?
Não considero alto risco se a paciente não apresentar doença de base como pressão alta, diabetes, cardiopatias, entre outras. Caso a mesma não se enquadre em nenhuma dessas doenças, a rotina de pré-natal será feita apenas com um pouco mais de ansiedade, mas um bom acompanhamento médico fará a paciente tranquilizar-se e sentir-se segura.

Como deve ser o pré-natal?
Se a gestação for de alto risco, essa paciente deve ser acompanhada de maneira multidisciplinar, ou seja, juntamente com o especialista da doença de base. Durante as consultas, as pacientes devem ser orientadas quanto ao risco materno-fetal, assim como visitar uma maternidade que esteja tecnologicamente bem equipada e com bom suporte da equipe médica e de enfermagem.

Do ponto de vista anatômico e funcional do organismo feminino, qual o problema de adiar a gestação?
O real problema é que poderão aparecer as alterações ortopédicas, vasculares, respiratórias e até emocionais.

Sendo a primeira gestação, os riscos são maiores ou menores?
Os riscos são somente referentes à idade da paciente e não a paridade.

Há algum tipo de benefício para o organismo da mulher engravidar tardiamente?
Na minha opinião, o único benefício da paciente engravidar tardiamente é que ela apresenta incontestável maturidade de vida e assim sua gestação dificilmente será indesejada.

Como deve ser a preparação da mulher na fase pré-gestacional?
A paciente deve ser orientada quanto aos riscos materno-fetais e deve fazer alguns exames laboratoriais para afastar as possíveis alterações clínicas, além de iniciar a suplementação com acido fólico.

Para que serve o Teste do Clomifeno?
Esse teste serve para avaliarmos a reserva ovariana quanto a produção hormonal e assim a possibilidade de gravidez espontânea. É também informação importante para orientar tratamentos específicos ou métodos reprodutivos aos casais.

Como deve ser o comportamento dessa gestante? Há muitas restrições?
Ela deverá ser acompanhada com consultas mais frequentes, com orientação sobre nutrição e ainda, se possível, atividade física do tipo hidroginástica. Tudo isso com o intuito de diminuirmos a morbidade materno-fetal.

Quais os riscos para o feto?
Todos os riscos relacionados com a prematuridade, seja do ponto de vista neurológico ou da imaturidade cardiopulmonar.

Engravidar após os 35 anos aumenta as chances de prematuridade e abortamento?
Aumenta sim. Com certeza, estes riscos serão mais evidentes.

Quais os riscos de mortalidade materna?
O principal risco está relacionado com a elevação da pressão arterial, mas ainda pode aparecer a diabetes gestacional e suas complicações.

O momento do parto, propriamente dito, pode ser prejudicado devido à idade da mulher?
Sim, pode ser prejudicado não só o parto como também o puerpério imediato, complicações estas devido às interações das patologias com a evolução da gravidez.