Sempre Materna

O bê-á-bá do pré-natal

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Basta receber o resultado positivo de gravidez para que milhares de angústias invadam a cabeça da futura mamãe. Será que o embrião está bem implantado? Está se desenvolvendo normalmente? Tenho algum problema de saúde? É pouco provável que, em alguma outra situação, uma pessoa fique tão animada de sair do consultório médico sabendo que vai passar por uma maratona de exames. Isso acontece porque são esses exames que darão as respostas para as perguntas citadas e, conseqüentemente, trarão tranqüilidade à gestante em relação ao sucesso de sua gravidez.

Se no passado, o máximo que conseguíamos era ouvir os batimentos cardíacos do bebê com um estetoscópio, hoje em dia pode-se detectar quase que com 100% de certeza a presença ou ausência de anomalias e defeitos genéticos através de exames que se aproveitam de tecnologia avançada.

Sempre Materna conversou com o ginecologista e obstetra Alessio Calil Mathias, diretor do Instituto Paulista da Mulher e da Clínica Genesis, que nos ajuda a conhecer um pouco mais sobre os exames solicitados durante o pré-natal e saber por que são tão importantes.

Como deve ser o pré-natal ideal?

As consultas devem ser mensais até o 7º mês, quinzenais do 7º ao 8º mês e semanais no 9º mês. O pré-natal deve ser feito de forma natural e obedecendo às recomendações do médico responsável, a fim de prevenir surpresas. É um momento onde a paciente acaba fazendo a profilaxia de várias doenças, analisando de forma completa o seu bem-estar, para que o novo ser, que habita o seu útero, possa ter formação, desenvolvimento e amadurecimento corretos, vindo ao mundo da forma mais bela e perfeita, trazendo alegria e união.

Costuma-se atrelar o pré-natal apenas ao ginecologista/ obstetra. Alguma outra especialidade médica deve ser envolvida?

É importante, que ao iniciar o seu pré-natal, a gestante possa consultar com os seguintes especialistas: cardiologista, para avaliação e profilaxia cardiovascular, propiciando tranqüilidade no momento da anestesia; anestesista, que fará a avaliação prévia e pré-anestésica no consultório e não na sala de parto, pois devemos lembrar que muitas vezes os partos são tão rápidos, que não há tempo para perguntar sobre processos alérgicos, cirurgias prévias, tipo de coluna, etc.; médico vascular, para avaliação e profilaxia de varizes, orientação quanto ao uso de meias compressivas, prevenção de tromboses e outras patologias decorrentes do período gestacional; dermatologista, para orientação quanto a manchas, estrias, etc.; nutricionista, que vai orientar para que a gestante ganhe o peso necessário, não ultrapassando os limites, evitando diabetes gestacional, hipertensão, edemas, estrias, etc.; e personal trainer, para avaliação física e orientação dos melhores exercícios para cada gestante em particular.

A maioria das mulheres só realiza exames depois de descobrir que está grávida. Qual seria o procedimento correto que as “tentantes” deveriam seguir?

Na realidade, é extremamente importante a realização de alguns exames antes de a paciente engravidar. Procuro incentivar uma medicina preventiva e profilática, ou seja, dar ênfase ao histórico familiar (se alguém já teve câncer, cardiopatia, diabetes, hipertensão, etc.) e realizar os exames prévios. Exemplo básico: uma paciente faz tratamento para engravidar, mas nunca fez uma ultra-sonografia mamária e no decorrer do seu pré-natal descobre que tem um nódulo que pode ser benigno ou maligno. Como não fez exame prévio, isso pode se tornar um grande problema. Algumas sorologias também são fundamentais, como hepatite B, rubéola e sarampo, para que, caso haja necessidade, possam ser ministradas as vacinas antes de a mulher engravidar.

Quais os exames de rotina solicitados a todas as gestantes no primeiro trimestre de gestação?

O primeiro trimestre tem a maior carga de exames para avaliar toda a condição física da gestante e para saber se a gravidez e o embrião estão se desenvolvendo normalmente. Exames laboratoriais: Hemograma Completo, Glicemia de Jejum, Colesterol total e frações, Ferro, vitamina B12, ácido fólico, T4, TSH, Progesterona e Tipagem Sangüínea; Urina tipo I, para detectar possíveis infecções ou diabetes; Sorologias para: HIV, Hepatites A, B e C, Rubéola, Citomegalovírus, Toxoplasmose, Mononucleose e Protoparasitológico; Ultra-sonografia Endovaginal precoce para determinar a idade gestacional mais precisa e Ultra-sonografia Morfológica Fetal do primeiro trimestre com translucência nucal, que mede uma pequena área translúcida formada na nuca do feto entre a 10ª e 13ª semana de gestação. Essa medida é um indicativo importante do risco que o bebê tem de possuir problemas genéticos como a síndrome de Down, síndrome de Turner ou outras trissomias (caso haja alguma alteração, a investigação deve prosseguir com exames mais complexos).

Quais seriam estes exames mais complexos e quando a gestante deve submeter-se a eles?

Os exames para a comprovação de anomalias genéticas são: Biópsia de Vilo Corial, realizada entre a 11ª a 13ª semana, quando uma pequena amostra de células da placenta é retirada. A coleta pode ser feita de duas maneiras: por meio de um tubo fino guiado por ultra-som introduzido pela vagina ou utilizando-se uma agulha que perfura o abdome. Há risco de causar aborto entre 1% e 2% dos casos. Amniocentese, que pode ser feita a partir da 13ª semana de gravidez e analisa o líquido amniótico que circula dentro da placenta. A coleta é feita através de uma agulha fina guiada por ultra-som, que atravessa a barriga da gestante. O risco de aborto é de 1%. Por último, a Cordocentese, realizada após a 20ª semana de gestação, que analisa uma amostra do sangue que circula no cordão umbilical do feto, retirada por meio de uma agulha especial. Tem o maior risco de aborto, cerca de 2%. O objetivo destes exames é detectar alterações cromossômicas, doenças congênitas, infecciosas e sanguíneas. Sua precisão é de 100%, mas, por se em invasivos (há risco de aborto) devem ser realizados apenas em gestantes de risco (acima dos 35 anos) ou quando o pré-natal tradicional levantar alguma suspeita.

Quais os exames de rotina solicitados a todas as gestantes no segundo trimestre?

Os exames do 2° trimestre visam acompanhar a evolução e o crescimento do bebê. O mais importante é a ultra-sonografia Morfológica Fetal com doppler colorido, realizada entre a 20ª e 24ª semana de gestação, que verifica a morfologia estrutural do feto – todos os órgãos e estruturas ósseas –, além de monitorar o fluxo de sangue no feto, no cordão umbilical e nas artérias uterinas. Já o Ecodopplercardiograma materno e fetal, realizado a partir da 24ª semana de gestação, verifica se há algum tipo de malformação ou problema cardíaco pré-existente. A ultra-sonografia obstétrica 3-D/4-D pode ser realizada por volta de 26 semanas e mostra o feto em detalhes. Para acompanhar o bem-estar da futura mamãe, faz-se o perfil glicêmico, para afastar o risco de diabetes gestacional, e a pesquisa de Streptococos beta hemolítico do grupo B, por volta de 28 semanas, que, quando positiva, necessita de tratamento com antibiótico no dia do parto, para evitar possíveis problemas ao recém-nascido.

E no terceiro trimestre, qual a rotina de exames para as gestantes?

Ultra-sonografia obstétrica com Dopplervelocimetria, realizada na 36ª semana de gestação, que, juntamente com o Perfil Biofísico Fetal, avalia o fluxo sanguíneo nas artérias e vasos uterino, placentário e fetal. Cardiotocografia fetal, realizada na 37ª semana de gestação, para avaliar circulares de cordão, infecções e sofrimento fetal. Este exame pode ser repetido semanalmente até o bebê nascer. Solicitamos também a repetição de alguns exames de sangue.

Que exames são solicitados apenas em casos especiais e por quê?

Toxoplasmose mensal, caso a sorologia seja negativa para IGG e IGM, pois se a paciente apresentar a doença durante o pré-natal poderá fazer o tratamento, apesar dos riscos de malformações serem grandes, em qualquer fase da gestação. Além dos exames para comprovação de anomalias genéticas já citados anteriormente (Amniocentese, Cordocentese e Biópsia do Vilo Corial), que devem ser solicitados apenas às gestantes com mais de 35 anos ou que tenham antecedentes de risco. Atualmente as gestantes se submetem a muitas ultra-sonografias. Esse procedimento tem algum risco?

Qual a sua recomendação?

Não. A ultra-sonografia é bastante segura e inócua e cada médico tem a própria conduta. Em minhas pacientes, eu realizo ultra-sonografia mensalmente, sendo a primeira, de preferência, o mais precoce possível.