Depressão pré-parto : um problema pouco falado e uma história de superação aos 22 anos
Apesar da depressão pós-parto ser mais conhecida, a ocorrência do problema durante a gravidez também é comum. Existem pesquisas realizadas tanto no Brasil, como em países da Europa e Estados Unidos, que comprovam os sérios impactos da depressão pré-parto no primeiro ano de vida dos bebês e, provavelmente, nos anos futuros.
O último estudo sobre o assunto, feito por pesquisadores do King’s College London, na Inglaterra, revelou que a inflamação causada pela depressão durante a gestação pode fazer com que o bebê sofra níveis mais elevados de cortisol, o hormônio liberado em situações do estresse. Além disso, aqui no Brasil, o COREN – Conselho Regional de Enfermagem, divulgou no ano passado que a depressão pré-parto atinge cerca de 10% das grávidas brasileiras.
A empreendedora pernambucana, de 22 anos, Anna Carla Medeiros dos Santos, é uma destas brasileiras e conta como tem dado a volta por cima:
“Morei na roça até os 12 anos e estava acostumada a ir para a escola em pau de arara. Aos 15 anos vim para São Paulo. Estudei em escola pública, mas sempre fui dedicada aos estudos. Aos 17 anos ganhei uma bolsa para estudar engenharia civil no Mackenzie. Na faculdade, participei de programas e campeonatos estudantis. Em paralelo, comecei meu primeiro emprego, com carteira assinada, no Mercado Livre, onde participei de diversos programas da empresa me destacando pela capacidade analítica e de persuasão. Após quase dois anos de atuação no Mercado Livre, resolvi participar do processo seletivo do Bradesco e consegui uma das 25 vagas que concorri com quase 4 mil inscritos para o programa Inovabra. Ao todo éramos em 6 mulheres (apenas) e 19 homens. E foi aos 21 anos, recém contratada pelo banco, que eu descobri que estava grávida de gêmeas”.
Conciliar a carreira, com a vida familiar, gestação e as aulas tanto na universidade, como no curso de inglês, foi e continua sendo um grande desafio para a Anna, que no terceiro de gestação foi diagnosticada com depressão pré-parto.
“Logo no início da gravidez meu médico deixou claro que seria uma gestação de risco e que conciliar tudo seria complicado porque eu teria que reduzir o ritmo. A depressão pré-parto já demonstrava seu impacto desde o começo, neste período eu me sentia triste e sozinha – sem ninguém para recorrer, insegura e com medo do que estaria por vir. No entanto, me esforcei ao máximo para dar conta de tudo e, após 5 meses de atuação no programa Inovabra, eu fui contratada para ser Analista De Pesquisa e Inovação com foco em OpenBanking. Neste momento eu já estava com 4 meses de gestação. E, não teve jeito, tive que me afastar do trabalho por conta da gravidez de risco. Eu não podia fazer esforço. Minhas filhas nasceram com 35 semanas e 3 dias, no dia 18 de outubro de 2019 e ficaram 26 dias na UTI Neonatal. Não tive tempo de resguardo, pois precisava estar todos os dias, o dia inteiro no hospital para amamentá-las. Saía de casa, em Santana de Parnaíba, todos os dias às 7h para estar no hospital, na Av. Paulista, antes do boletim médico que acontecia às 10 horas da manhã.
Em alguns momentos em que eu só podia dormir 50 min, pois precisava amamentar as duas filhas entre as mamadas que aconteciam a cada 3 horas. E, como algumas pessoas podem imaginar, a depressão se estendeu para o pós-parto, agravando ainda mais meu estado emocional. Em meio a tudo isso, desenvolvi crise de pânico e acabei me distanciando de parentes e familiares. Lá se foram 11 meses em depressão e, em casa, comecei a estudar mais sobre maternidade x feminismo e me aprofundar no tema. E foi frequentando palestras sobre este universo que passei a ter momentos de mais entusiasmo. Foi, então, que em um desses eventos eu descobri que minha trajetória de vida e a forma como venho tentando lidar com tudo poderia ajudar outras tantas mulheres que passam por situações semelhantes. Ao contar minha história em um desses evento, fui convidada para ser palestrante de uma instituição e, logo após, dei minha primeira entrevista para a Inspiring Girls, uma ONG que leva mulheres inspiradoras para palestrar para meninas da rede pública de ensino.”
Em paralelo a isso, resolvi que cuidaria de um aplicativo que eu me meu marido criamos para organizar nosso chá de bebê, mas que fez tanto sucesso com os convidados, que em fevereiro deste ano, resolvemos disponibilizar no Google Play e App Store. Até o momento já contabilizamos quase 10 mil downloads. E sei que este é só o começo. Ainda tenho muito trabalho pela frente e estou confiante de que, de uma forma ou de outra, conseguirei realizar o sonho de ajudar muitas mães, seja com a minha história de superação, seja palestrando na ONG, seja facilitando a organização de eventos tão importante para as mamães.”
Aos 22 anos, a empreendedora pernambucana, Anna Carla Medeiros dos Santos, é mãe de gêmeas e está disponível para conceder entrevistas sobre maternidade, empreendedorismo e feminismo.
Fonte: Anna Carla Medeiros dos Santos – Palestrante