Sempre Materna

A criança e os limites

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Pais e mães querem saber como podem colaborar em todo o processo de aprendizagem e crescimento de seus filhos. Vários aspectos poderiam ser levantados, porém, o mais relevante na educação seria o desenvolvimento gradativo da autonomia na criança, no sentido social, moral e intelectual.

 

“Os adultos estimulam o desenvolvimento da autonomia quando intercambiam pontos de vista com a criança em lugar de usar recompensas e castigos”, diz o pediatra Renato Kfouri. Segundo o médico, vale lembrar que autonomia não significa a mesma coisa que liberdade completa. Ela envolve comportamentos que levam em consideração um agir consciente e responsável do que é o melhor para todos e não apenas para si próprio, respeitando as limites que são a base de todo o relacionamento social. “Crianças que são educadas para a autonomia conseguem construir seus próprios valores ao longo da vida, e são capazes de, mais tarde, agir de acordo com seus princípios, não se deixando governar por aqueles que possam colocar em risco sua segurança física, emocional e moral”, afirma ele.

 

De acordo com Kfouri, a educação indulgente e a falta de disciplina são responsáveis por gerações de crianças mal educadas, apáticas, amorais e infelizes. Para ele a ideia de que as crianças vão ficar estressadas, insatisfeitas ou traumatizadas, com nosso pedido de realizações ou com a colocação de limites próprios para a idade, é um equívoco. “Quanto mais cedo forem induzidas a aprender, a realizar, a respeitar a si mesmas e ao outro, mais naturalmente vão se comportar. Quanto mais tarde isso ocorrer, mais elas vão desenvolver hábitos e defesas para resistirem às exigências feitas”, enfatiza o pediatra.

 

Dicas do Médico:

ü  Não dar regras e orientações firmes e claras é a melhor maneira de se criar arrogância e desrespeito;

 

ü  Delegar obrigações e responsabilidades dá a criança um sentimento de competência, que estimula o seu potencial de crescimento;

 

ü  Amor, cuidado e disciplina são elementos essenciais na educação. Sempre com bom senso;

 

ü  A punição física e as descomposturas humilhantes não colaboram na construção de um indivíduo saudável. Há maneiras sábias, seguras e eficientes de se impor a disciplina, cabendo a cada um buscar o melhor caminho;

 

ü  Para uma sociedade melhor, é preciso que suas crianças tenham algum idealismo, que desenvolvam um sentido de comunidade e que sejam desafiadas para serem, a cada dia, melhor do que são.

 

 

 

 

 

 

Carta de uma criança para seus Pais

 

“Não tenham medo de serem firmes comigo. Prefiro assim. Isto faz com que me sinta mais seguro. Não me estraguem. Sei que não devo ter tudo o que peço. Só estou experimentando vocês. Não deixem que eu adquira maus hábitos. Dependo de vocês para saber o que é certo ou errado.

 

Não me corrijam com raiva nem na presença de estranhos.

 

Aprenderei muito mais se me falarem com calma e em particular. Não me protejam das conseqüências de meus erros. Às vezes eu preciso aprender pelo caminho mais áspero. Não levem muito à seriedade as minhas pequenas dores. Necessito delas para obter a atenção que desejo. Não sejam irritantes ao me corrigirem. Se assim fizerem, eu poderei fazer o contrário do que me pedem. Não me façam promessas que não poderão cumprir depois. Lembrem-se de que isto me deixará profundamente desapontado. Não ponham à prova minha honestidade. Sou facilmente levado a dizer mentiras.

 

Não me mostrem um Deus carrancudo e vingativo. Isto me afastará dele.

Não desconversem quando faço perguntas, senão serei levado a procurar as respostas na rua, todas as vezes que não as tiver em casa. Não se mostrem para mim como pessoas infalíveis. Ficarei extremamente chocado quando descobrir um erro seus.

 

Não digam simplesmente que os meus receios e medos são bobos. Ajudem-me a compreendê-los e vencê-los.

 

Não digam que não conseguem me controlar. Eu me julgarei então mais forte que vocês. Não me tratem como uma pessoa sem personalidade. Lembrem-se que eu tenho o meu próprio modo de ser. Não vivam me apontando os defeitos das pessoas que me cercam. Isto vai criar em mim, mais cedo ou mais tarde, o espírito de intolerância. Não se esqueçam de que eu gosto de experimentar as coisas por mim mesmo. Não queiram me ensinar tudo.

 

Não desistam nunca de me ensinar o Bem, mesmo quando eu pareça não estar aprendendo. Insistam com amor e energia. Insistam, através do exemplo, e no futuro vocês verão em mim o fruto daquilo que plantaram”.

Fonte: Renato Kfouri