Muitas mulheres que querem se tornar mães começam a se preparar para a gestação meses antes da concepção: melhoram a alimentação, passam a praticar exercícios físicos, tomam ácido fólico. Essas transformações na rotina são boas tanto para elas, como para os bebês. O que ninguém diz é que os homens que desejam se tornar pais deveriam fazer o mesmo.
Um estudo do National Institute of Child Health and Human Development, dos Estados Unidos, investigou a associação entre o excesso de cafeína e perdas gestacionais e a conclusão é que quando os homens exageram na dose de café também pode haver prejuízos para a gravidez. A pesquisa foi feita com 344 casais e os resultados mostraram que a ingestão de três a quatro doses de bebidas cafeinadas por dia aumentou em 74% a chance de perda gestacional nos estágios iniciais. A grande novidade do estudo, porém, é que isso vale tanto para mulheres quanto para os homens que consumiram uma quantidade de cafeína acima da dose diária recomendada. Algumas pesquisas anteriores já haviam sugerido que essa substância pode interferir na gravidez, mas esse é o primeiro estudo que aponta que o excesso por parte do pai também pode ser prejudicial.
Uma das explicações é que o excesso dessa substância aumentaria o número de radicais livres, que são moléculas que danificam os gametas, dificultando a concepção. Outra razão é que, por ser estimulante, a cafeína em grandes quantidades afeta a qualidade do sono e ainda aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial, o que influencia na produção dos espermatozoides. Não é preciso cortar totalmente a substância da dieta, já que em pequenas doses – uma ou duas xícaras por dia – a ela não causa problemas. Só vale lembrar que a cafeína não está presente apenas no café: refrigerantes com cola e chá preto também possuem níveis consideráveis da substância.
Ainda assim não dá para dizer que a cafeína é o único fator que está diminuindo a fertilidade masculina…
Modernidade e infertilidade
“O homem moderno é pouco fértil, especialmente aquele que vive em grandes cidades. A cada 100 casais que procuram um médico por dificuldades de engravidar, 55 enfrentam problemas de origem masculina”, explica o ginecologista e obstetra Alberto d’Auria, do Hospital Santa Joana (SP). Isso se deve a vários fatores, como:
– Consumo de bebidas alcoólicas: além de agredir o fígado, o resultado da metabolização do excesso de álcool produz substâncias tóxicas para o organismo. Por isso, em casos extremos, como os de homens alcoólatras, a motilidade, que á a capacidade de movimentação autônoma dos espermatozoides, costuma ser muito ruim. “Um espermatozoide de baixa qualidade pode gerar um embrião de não tão alta qualidade, caso aconteça a fecundação. Também pode levar a abortos”, explica a ginecologista e obstetra Paola Fasano, do Hoispital São Luiz (SP);
– Tabagismo: “O cigarro é um grande causador de problemas vasculares, que podem gerar inclusive impotência e falta de ereção”, explica o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli, autor do livro Gestação- mitos e verdades sob o olha do obstetra . Outro ponto importante que já foi confirmado pela ciência é que ser um fumante passivo, ou seja, alguém que não fuma, mas que acaba inalando a fumaça, é tão prejudicial quanto fumar. “E se o pai fumar perto da mãe, ela se torna uma fumante passiva”, esclarece Paola.
– Má alimentação: o consumo de açúcares e gorduras também pode prejudicar a fertilidade. “Estudos recentes mostram que a leptina, que é um hormônio produzido pelo tecido gorduroso e serve para regular nossa saciedade, inibe a função das células que produzem os espermatozoides”, explica o clínico-geral e urologista, Alex Meller, da Unifesp. Além disso, o consumo de alimentos ricos em açúcares promove um metabolismo oxidativo, ou seja, aumenta os radicais livres. Isso pode provocar oxidação tanto dos óvulos quanto dos espermatozoides.
– Excesso de calor: muitos homens estão acostumados a usar calças apertadas e dormem de cueca. Esses hábitos podem prejudicar a fertilidade porque aumentam a temperatura dos testículos, que é justamente onde os espermatozoides são produzidos. Por esse mesmo motivo, não é recomendado trabalhar com o laptop no colo, uma vez que o aparelho esquenta. Ficar sentado mais de 6 horas seguidas por dia, principalmente em cadeiras de fundo plástico, que aquecem, também pode ser prejudicial.
De modo geral, qualquer alteração orgânica, como estar acima do peso, com colesterol alto, ou com diabetes, vai influenciar na produção dos espermatozoides. Muitas vezes, o problema não é só a diminuição da quantidade, mas também a qualidade dos gametas, que podem sofrer deformações e ter problemas de motilidade, prejudicando as chances de fecundação.
Fonte: Dr. Domingos Mantelli