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9 Orientações sobre o Câncer de Mama

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Segundo dados do INCA, estima-se que entre 2018 e 2019 ocorram 59.700 novos casos de câncer de mama no Brasil. Um risco de 56,33 casos a cada 100 mil mulheres, sendo (sem considerar os tumores de pele não melanoma) o tipo mais frequente de câncer em mulheres no País.

Para a ginecologista e obstetra, Patrícia Gonçalves, mestre em Obstetrícia e Ginecologia pela USP, professora assistente em Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP e do Centro Universitário São Camilo, a prevenção é o caminho para reduzir os casos de câncer de mama. “É muito importante que as mulheres tenham o costume de observar suas mamas, de fazer o autoexame”, comenta acrescentando que “a detecção precoce da doença garante as melhores chances de tratamento e cura”.

O autoexame deve ser realizado mensalmente no período pós-menstrual, quando as mamas já estão menos inchadas, permitindo que as glândulas mamárias possam ser avaliadas. A especialista recomenda que ele seja realizado durante o banho, “passando o sabonete para o melhor deslizar da polpa digital, sentindo as glândulas mamárias e as axilas em busca de nódulos”, orienta.

Patrícia Gonçalves destaca que é importante saber diferenciar uma glândula normal da que não é. “Na glândula normal, sente-se como se fosse um ´miolo de pão amassado´”, comenta a ginecologista. Também pode-se ter a sensação de “sagu”, no caso de glândulas mais densas. “Essa é a mama de uma mulher que geralmente apresenta displasia mamária. Isso também é normal”, afirma.

Agora, se durante o autoexame a mulher notar alguma elevação ou alguma depressão nas mamas, ou sentir um nódulo – móvel ou fixo –   endurecido, como se fosse a “ponta do nariz”, há indício de alguma patologia mais grave. “No caso do surgimento de um nódulo, ou qualquer alteração nas mamas, o ginecologista deve ser consultado imediatamente”, adverte a especialista.

A seguir, a Dra. Patrícia Gonçalves esclarece algumas dúvidas sobre o câncer de mama:

 

Atenção ao “peau d’orange” e outros sinais

Além da presença de nódulo, em geral, enrijecido, fixo e profundo, durante o autoexame (e no dia a dia) a mulher deve estar atenta a alguns sinais. Um deles é o que chamamos de “peau d’orange”, que é aquela aparência de pele grosseira, como se fosse a casca da laranja, e que pode indicar a presença de uma patologia mais agressiva.

Prurído (coceira) na mama ou no mamilo também pode indicar alguma alteração e deve ser melhor investigada.

Presença de secreção mamilar (descarga mamilar), seja ela escurecida (amarronzada), sanguinolenta (sangue vivo), hialina (como água de rocha), ou láctea (parecendo leite ou pus) é outro indício que não deve ser desprezado, pois pode indicar alguma alteração no ducto mamilar ou mesmo da glândula mamária.

Também pode haver a hiperemia, que é a vermelhidão do mamilo, ou de alguma parte da mama. Pode acontecer, ainda, um aumento da vascularização. Quando ocorre em ambas as mamas, durante a gravidez e a amamentação, por exemplo, é normal.  Entretanto, um aumento da vascularização apenas em uma mama, em uma só região, ou junto com a hiperemia, pode apontar algum problema. Pode ser uma simples mastite (infecção local da mama) ou um carcinoma. Daí a importância de, ao se perceber qualquer alteração, consultar o ginecologista.

 

Todo nódulo no seio é ou se tornará câncer de mama?

Não. É muito natural meninas, mulheres mais jovens, terem glândulas mamárias mais túrgidas, caracterizando a “famosa” displasia mamária. Então é muito comum que elas desenvolvam os chamados fibroadenomas (nódulos benignos formados por um enovelado de cartilagem endurecida). Os fibroadenomas podem surgir devido à displasia, ao ingurgitamento da glândula mamária, à sobrecarga hormonal ou à pré-disposição familiar.

Mas, como disse anteriormente, nem todo nódulo é cancerígeno. O câncer já começa como câncer. Ainda que pequeno, mas o câncer já começa a se desenvolver através da atipia, das alterações celulares. E não de um nódulo benigno de cartilagem. Mas, ao sentir qualquer alteração nas mamas, o ideal é sempre consultar o ginecologista.

 

Pílula anticoncepcional pode causar câncer de mama?

Não, a pílula anticoncepcional, não é um fator de risco para o surgimento de câncer de mama. Entretanto, em mulheres que já possuem predisposição genética para desenvolver a doença, haverá um risco maior, e o uso do contraceptivo poderá propiciar o surgimento de vários transtornos. Por isso é recomendável que mulheres com histórico familiar de câncer de mama, utilizem como contraceptivo um método não hormonal.

 

A amamentação previne o câncer de mama?

Além de ser um momento de profunda felicidade na vida da mulher, passar pelo período de amamentação faz com que as glândulas mamárias se tornem mais acomodadas, relaxadas, levando a uma diminuição no risco de desenvolver câncer de mama.

Explico: durante o período fértil, ou seja, quando a mulher vai ovular, a glândula mamária ingurgita devido à sobrecarga hormonal (para o processo de fabricação do leite, para que a mulher possa amamentar). Porém, quando a mulher não engravida, a glândula mamária desincha, voltando ao seu estado normal. Agora, se ocorre a gravidez, chega-se ao ápice do amadurecimento glandular, isto é, ela está sobrecarregada por hormônios para a formação do leite. Cerca de um ano após o período de amamentação, ocorre o relaxamento, a acomodação dessas glândulas tornando, por exemplo, muito mais tranquilo realizar o autoexame.  Entretanto, o risco de câncer de mama em mulheres que já tem uma predisposição muito grande, em termos genéticos, não muda.

 

Desodorante antitranspirante causa câncer de mama?

É mito! Spray, roll-on, aerossol… não importa o veículo, nenhum desses produtos é capaz de causar câncer de mama.  A doença se inicia na glândula mamária, não nas axilas. Além disso, o desodorante antitranspirante não causa abafamento ou falta de transpiração, como muitos acreditam. Ele apenas faz com que as glândulas sebáceas não exalem odor fétido, causado pelas bactérias da própria flora da pele, quando há um acúmulo de resíduo de suor. E isso não tem qualquer relação com drenagem linfática.

 

Prótese de silicone facilita o surgimento do câncer de mama?

A prótese de silicone não causa câncer de mama.  Elas são certificadas (aprovadas pela ANVISA) e seu material é tecnologicamente desenvolvido (cada vez mais) para ser seguro e não propiciar a doença. Além disso, as técnicas utilizadas pelos cirurgiões plásticos, são cada vez menos agressivas às glândulas mamárias, e próteses são inseridas de forma que não alterarem essas glândulas.  Agora, se a prótese for “clandestina”, ou algum outro material for colocado, injetado de qualquer maneira, misturando-se à glândula mamária, essa, sim, pode propiciar doenças, desde o próprio nódulo até a necrose (o “apodrecimento” do tecido mamário).

 

Consumo excessivo de açúcar pode contribuir para o surgimento de câncer de mama?

A obesidade em si pode levar ao câncer. E não apenas ao de mama! Todas as células de nosso corpo precisam de energia, e ela vem da glicose que consumimos. Nós precisamos consumir glicose ou derivados, ou seja, carboidratos para degradar em glicose. Esse é o processo metabólico que gera a energia.  Entretanto, a energia do câncer também vem da glicose. Por isso, pessoas obesas, com sobrepeso, com alto consumo de glicose e carboidratos, pelo acúmulo de gordura, podem, sim, desenvolver câncer de mama, ou outros cânceres.

 

Mudanças de hábito podem contribuir para a prevenção do câncer de mama?

Mudanças no estilo de vida hábitos ajudam, sim, a prevenir o surgimento do câncer de mama. Diabetes, sobrepeso, tabagismo e ingestão de carboidratos em excesso são alguns dos fatores que elevam o risco de câncer de mama, principalmente nas mulheres que já apresentam maior propensão genética. Já o abuso do álcool leva à queda da imunidade, podendo aumentar a formação de células atípicas, elevando o risco da doença.

Por outro lado, procurar ter uma alimentação equilibrada e praticar atividades físicas regularmente melhora a resistência, diminui o peso e compensa o diabetes. E isso ajuda a diminuir o risco de desenvolver qualquer tipo de câncer, principalmente o de mama.

 

Quando a mastectomia é indicada?

Uma dúvida muito comum entre as mulheres diagnosticadas com câncer é se terão que remover a mama. A mastectomia – cirurgia de remoção da mama – é indicada dependendo do tipo de câncer, sua localização, profundidade e nível de agressão. Já o momento para a reconstrução mamária deve ser avaliado caso a caso. Se o tumor é mais agressivo, mais invasivo, se vai precisar de quimioterapia, ou se vai precisar de radioterapia também. A radioterapia, por exemplo, causa uma reação local que pode deformar a prótese. Devemos considerar, ainda, a cicatrização e a imunidade dessa mulher, para verificar se ela está apta a receber uma prótese naquele momento, para que não haja rejeição, sequelas, retrações. Para que fique perfeito. Em outros casos, a reconstrução mamária não apresenta restrições, podendo ser feita no mesmo momento da mastectomia.

 

Sobre a Dra. Patrícia Gonçalves

Médica obstetra e ginecologista, mestre em Obstetrícia e Ginecologia pela USP, professora assistente em Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP e do Centro Universitário São Camilo.