16 de ago. de 2024

Pesquisa com 2800 crianças de 3 a 4 anos revela erosão dentária em 50% das crianças. Prevalência é alta.

Hábitos como beber pouca água ou levar sucos industrializados para a escola todos os dias devem ser revistos pelos pais

Pouca gente sabe, mas erosão dentária não é exclusividade de adulto. Pesquisas revelam que crianças e adolescentes também apresentam o problema. E, como os sintomas são indolores, geralmente os pais só conseguem perceber em estágios avançados, quando a dentina já está exposta e aparece um ponto mais amarelado.

A erosão é causada pelo mesmo fator independentemente das diferentes faixas etárias: geralmente um problema alimentar relacionado ao frequente consumo de substancias ácidas, segundo especialistas. O que varia é o fator em si: crianças vão consumir produtos ácidos na forma de sucos de caixinha, sucos em pó, gomas de mascar. Já os adolescentes consomem mais refrigerantes, bebidas energéticas e bebidas alcóolicas e os adultos mais efetivamente as bebidas alcoólicas, sucos cítricos, e outros tipos de bebidas.

O ataque ácido que a boca sofre derruba o PH salivar neutro (em torno de7,0) para patamares abaixo de 5,5. Para reverter esse quadro e neutralizar a presença do ácido, a reação da saliva é remover o cálcio na estrutura dentária que, já mais fragilizada, e ainda sofrendo outros desgastes com o uso da escova e o ranger dos dentes, vai perdendo estrutura de esmalte progressivamente.

“Em crianças ainda existe o agravante de os dentes de leite possuírem uma camada de esmalte mais fina e solúvel, mais carbonatada, que acaba sendo menos mineralizada, e respondendo ao ataque ácido na boca de uma forma mais rápida do que os dentes permanentes”, explica Gabriel Politano, odontopediatra do Ateliê Oral Kids..

A velocidade da progressão do desgaste erosivo vai depender da frequência de consumo de produtos ácidos. “Temos um trabalho de conscientização longo pela frente, pois o produto ácido é altamente consumido e há dificuldade em encontrar um substituto que seja tão prazeroso. Hábitos como beber mais água e inventar vitaminas mais saudáveis batidas com leite precisam ser adotados pelos pais o quanto antes. E, ainda, diminuir o hábito de ter na lancheira escolar os sucos industrializados diariamente”, alerta Marcelo Bönecker, professor da USP e um dos principais pesquisadores sobre o assunto no Brasil, que levou o tema para cerca de mil profissionais durante o Ateliê Oral International Meeting, em São Paulo.

O pesquisador realizou três estudos populacionais transversais em meninos e meninas de 3 a 4 anos residentes em Diadema, nos anos de 2008, 2010 e 2012, seguindo os mesmos critérios e metodologia. Um total de 2801 crianças foram sistematicamente examinadas durante o dia Nacional de  Vacinação Infantil. Os examinadores foram treinados para diagnosticar o desgaste dentário erosivo usando uma versão modificada do índice O’Brien. (índice utilizado para avaliar lesões erosivas dentais).

A prevalência de desgaste dentário erosivo foi de 51,6% em 2008, 53,9% em 2010 e, 51,3% em 2012. A maioria das lesões foi restrita ao esmalte do dente nos três estudos.

A taxa é considerada alta. “Apesar de existir poucos estudos no mundo com amostra populacional representativa, a nossa pesquisa é uma delas e apresenta média de 50% de erosão dentária. Significa que uma em cada duas crianças tem desgaste erosivo. Durante o período da pesquisa, nenhuma tendência de aumento ou diminuição na prevalência e gravidade da erosão foi encontrada. O que significa que a prevalência é alta e a tendência é estável”.

Recomendações para os pais:

Para tratar o problema, especialistas recomendam evitar que produtos ácidos entrem em contato com a superfície dentária ou pelo menos diminuir essa frequência.

Os pais devem substituir refrigerantes e sucos ácidos especialmente os de limão e laranja por produtos não ácidos como beber mais água, ou leite batido com fruta, por exemplo.

Sucos em pó dão uma falsa impressão de que os pais estão comprando algo com minerais saudáveis, ferro, cálcio, fosfato.

O ácido cítrico natural da fruta causa mais erosão do que as frutas que não são cítricas – ele provoca uma ação “quelante”, que não deixa o cálcio ficar livre na saliva e não permite que o PH da boca suba rapidamente ao PH neutro.

Tomar suco com canudo ajuda a amenizar o quadro, já que ele leva o produto direto para a parte posterior da boca.

Usar gelo na bebidas ácidas vai causar uma diminuição da acidez à medida que as bebidas vão sendo diluídas.

Evitar cremes dentais abrasivos em crianças – que removem mais cálcio da estrutura dental – e usar pastas dentais que sejam adequadas para o público infantil.

No caso de adolescentes, a causa também pode ser anorexia e bulimia. Refluxo gastroesofágico é um fator fortemente relacionado à erosão. Tem que buscar tratamento.

Fonte: Gabriel Politano, odontopediatra do Ateliê Oral Kids.