Sempre Materna

Chegou mais cedo

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Você nasceu de quantos meses? É comum durante a gravidez se ouvir falar sobre o parto prematuro ou pré-termo, mas suas causas e cuidados são pouco divulgados, o que gera muitas preocupações nas gestantes.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) é considerado parto prematuro os nascimentos que ocorrem entre a 22ª e a 37ª semana de gestação com sintomas de contrações e dilatação do colo de útero. As ocorrências que antecedem a 22ª semana , entram para a estatística de aborto, pois dificilmente acriança consegue sobreviver fora do útero.

Mesmo com a tecnologia atual e os avanços da medicina, os casos de bebês prematuros são comuns em aproximadamente 12% dos partos, com maior probabilidade na gestação de gemelares. A maioria dos pais, de um bebê prematuro ou pré-termo, ficam apreensivos por verem que seu filho, tão aguardado por toda a família, encontra-se frágil na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal da maternidade até sua total recuperação.

Para entender melhor o tema e ajudar a esclarecer as dúvidas mais comuns que cercam o assunto, Sempre Materna entrevistou Dr. Marcelo Zugaib, Prof. Titular da Disciplina de Obstetrícia e Chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP.

O que é considerado parto prematuro?

Parto prematuro é todo nascimento que ocorre antes da 37ª semana de gestação, ou seja, aproximadamente 259 dias de gravidez.Quais as causas do parto prematuro?O nascimento prematuro possui várias causas, sendo a mais comum os processos inflamatórios ou infecciosos locais e/ou sistêmicos. Por exemplo, infecção urinária. Outra causa comum é a sobredistensão do útero que ocorre nos casos de gestação de gêmeos.

Quais os fatores de risco que predispõem determinadas mulheres a ter um parto prematuro?

Vários são os fatores de riscos associados com a prematuridade, os quais são classificados em: epidemiológicos (nutrição inadequada, idade materna – extremos etários, estresse físico e psicológico, fumo, drogas), obstétricos (rotura prematura das membranas ovulares, parto prematuro anterior, gemelaridade, incompetência cervical, sangramentos de primeiro e segundo trimestre, alterações hormonais, doença hipertensiva específica da gestação (DHEG), descolamento prematuro de placenta, placenta prévia, restrição do crescimento fetal, polidrâmnio (grande quantidade de líquido amniótico), oligoidrâmnio (líquido amniótico diminuído), malformações fetais, ginecológicos (alterações anatômicas do colo uterino, história de amputação do colo uterino, malformações uterinas, miomatose), clínico-cirúrgicos (infecções, doenças maternas, procedimentos cirúrgicos na gravidez), genéticos (materno e/ou fetal) e iatrogênico (estimulado pelo médico). No entanto, cerca de 50% dos casos não apresentam fatores de risco identificáveis.

Em geral, quem tem parto prematuro em uma gestação terá também nas outras?

Apesar da história de parto prematuro anterior ser o principal fator de risco associado com a recorrência, cerca de 75% destas pacientes terão parto a termo na próxima gestação.Todavia, o risco de recorrência aumenta quanto menor a idade gestacional do primeiro parto.

É possível prevenir o processo do trabalho de parto prematuro?

Sim, várias são as medidas preventivas sendo que, atualmente, a utilização de progesterona em pacientes de risco tornou-se, nestes últimos anos, a medida mais efetiva.

Quais os sinais de alerta de trabalho de parto prematuro?

Contrações uterinas mais freqüentes. Inicialmente na região lombar e após na região supra-púbica (baixo ventre).

É possível interromper o processo do parto prematuro?

Sim. Alguns eventos são passíveis de correção. Por exemplo, paciente com sintomas de trabalho de parto prematuro (contrações antes da 37ª semana de gestação) e infecção urinária. Inibimos as contrações, tratamos a infecção e, desta forma, interrompemos o processo.

Quais as conseqüências da prematuridade para o recém-nascido?

As conseqüências são várias e estão relacionadas à idade gestacional do nascimento, ou seja, quanto mais precoce o parto maiores as conseqüências. As mais graves ocorrem nos RN (recém-nascido) com idade gestacional inferior a 30 semanas de gestação e peso inferior a 1.000 gramas. Dentre estas, citamos a Síndrome da Membrana Hialina (decorrente da imaturidade pulmonar), Enterocolite Necrozante (decorrente da imaturidade intestinal), maior chance de infecção pós-natal, alterações da visão, e certo grau de retardo no desenvolvimento neuro-psiquico-motor.

Marcelo Zugaib fala sobre nascimento prematuro

“Várias são as medidas preventivas sendo que, atualmente, a utilização de progesterona em pacientes de risco tornou-se, nestes últimos anos, a medida mais efetiva.”
Os bebês prematuros são mais suscetíveis a determinadas doenças do que os bebês nascidos a termo?

No período pós-natal sim, como as citadas acima. Após a recuperação de peso, também após o nascimento, os riscos são similares aos RN de termo (após 37ª semana de gestação).

Quais as chances de sobrevida do prematuro em cada idade gestacional em que ocorre o parto?

Se tratando de maternidade de alto risco, a sobrevida de prematuros extremos com peso ao nascer abaixo de 1.000 gramas é de 25%. Entretanto, entre estes sobreviventes pode haver complicações graves com repercussões a curto e longo prazo. Isto nos leva a concluir que a prevenção do nascimento prematuro deve ser a meta principal de nossas ações de saúde.

Com que idade gestacional mínima o bebê tem chances de sobreviver?

Em medicina é muito difícil precisar datas, pois em casos extremos há exceções. Podemos considerar que fetos viáveis de sobrevida são aqueles que pesam mais que 500 gramas e com idade superior a 26ª semanas de gestação (182 dias). Todavia, a sobrevidade depende de vários fatores que nem sempre estão ao nosso controle.

Sabemos que o parto prematuro é um momento de muita preocupação para os pais. Qual deve ser a posição deles para ajudar na recuperação do bebê?

Estimular o bebê desde seu nascimento. Aliás esta deveria ser a postura de todos pais com os recém-nascidos.

O fato da mãe da criança passar por preocupações e ansiedade pode prejudicar na produção do leite materno?

Sim, a ansiedade está diretamente relacionada com alterações na produção de leite, no entanto há controvérsias a esse respeito.

Segundo a universidade de Yale, um teste de proteína realizado com o líquido amniótico pode revelar se a mulher terá parto prematuro. Esse teste já é utilizado? Qual sua opinião sobre isso?

Sim, atualmente é aplicado em alguns casos. O risco para esse tipo de parto é detectado na mulher através da proteína denominada Fibronectina Fetal, que quando presente na secreção vaginal relaciona-se com maior chance do bebê prematuro. Em minha opinião, uma boa medida na prevenção, porém com melhores resultados entre as pacientes com contrações uterinas freqüentes, para diferenciar o falso do verdadeiro trabalho de parto.