Antes de qualquer comentário, quero deixar claro que estou me referindo a uma família tradicional, composta por um casal (pai e mãe) e seus filhos, contudo, acho importante mencionar que hoje em dia temos diversas configurações de famílias, que nem sempre são formadas de maneira clássica, sendo muitas delas compostas das mais diversas formas, como por exemplo, casais que não residem juntos, ou formadas apenas pelo filho e um dos genitores, ou casais homossexuais, entre tantas outras configurações. É importante que cada família tenha claro qual o papel que cada um ocupa dentro deste núcleo, entretanto, o pai ao qual mencionarei, pode ser substituído por qualquer outra pessoa que ocupe tal função.
Muitos homens encaram a maternidade com tranquilidade e conseguem lidar muito bem com a relação da mulher com o filho. São capazes de perceber que existe a dependência absoluta de bebê com a mãe, justamente por ela realizar os cuidados que ele necessita na maior parte do tempo. A mãe, por sua vez, justamente por estar envolvida com os cuidados com bebê, passa também a viver por um tempo – principalmente nos primeiros meses de vida dele – uma relação de muito envolvimento, muitas vezes não permitindo a entrada de outras pessoas nessa relação. E pode ser nesse momento que o pai venha ter dificuldades e se ressentir com isso.
As questões do pai, conscientes ou não, podem ter um peso significativo neste momento. É importante ele estar atento ao que está acontecendo com ele em termos de sentimentos e reações, no entanto ele nem sempre é capaz de perceber isso. A relação com o bebê, pode mobilizar questões inconscientes primitivas no homem que talvez não sejam percebidas sem a ajuda de terceiros, pois tais comportamentos podem aparecem de maneira indireta, chegando até confundir as pessoas e a ele mesmo. Irritabilidade, descaso com o bebê, hipersensibilidade, choro fácil, tristeza profunda, entre outros sintomas e comportamentos, podem ser uns dos sinais que denotam essa mobilização.
A relação do casal, após a chegada do bebê, pode sofrer algumas mudanças e nem sempre o homem lida bem com isso. Para alguns, “dividir” a parceira com o bebê, pode ser fruto de incômodo e mesmo tendo a percepção de que se trata de uma criança, talvez não tenha esta percepção consciente disso.
A dinâmica familiar com a chegada do bebê, inevitavelmente sofre algumas alterações, que nem sempre são para pior, mas é importante que os membros da família estejam atentos ao que isso pode provocar.
Buscar ajuda profissional, mesmo que seja com o intuito de orientação, pode ser uma boa alternativa neste momento, contudo, nem sempre é o homem quem consegue perceber o que está se passando consigo. Às vezes é a mulher quem precisa buscar ajuda, para que indiretamente possa sensibilizar o homem ao tratamento, que talvez se faça necessário.
Fonte: Cynthia Boscovich – MAYARA RABELO
Psicóloga clínica, psicanalista, membro regular da sociedade brasileira de psicanálise winnicottiana.
Atua com adolescentes e adultos, além de desenvolver um trabalho específico com casais em tratamento de fertilidade, gestantes, mães e bebês e orientação de pais.
Consultório: Alameda Santos, 211 conj. 611 – Cerqueira César – São Paulo-SP
Tel: 11 5549-1021