Lamentavelmente, a dengue ainda é um grande problema no Brasil. Vivemos uma fase de epidemia. Se a dengue representa um perigo para a população, para as grávidas a situação é ainda pior. Isso porque nesse período a mulher fica naturalmente com a imunidade mais baixa e as complicações da doença podem ser bastante graves. Para esclarecer algumas dúvidas sobre o tema a Sempre Materna conversou com Dr. Jurandir Passos, ginecologista do Lavoisier Medicina Diagnóstica.
O que acontece quando a gestante contrai dengue?
Fazendo uma revisão da literatura, não temos muitos trabalhos sobre o efeito da dengue durante a gestação. Mas, os que relatam a ocorrência dessa enfermidade durante o período gestacional, apontam o aumento de risco de mortalidade materna nas gestantes que desenvolveram dengue durante o período gestacional quando comparadas com as que não apresentaram. Do ponto de vista fetal, o aumento de risco para parto prematuro e recém-nascido com baixo peso são os pontos mais relevantes. Não há descrições de malformações relacionadas à ocorrência de dengue durante o período gravídico. Com relação à evolução da doença, ela se dá da mesma forma do que uma pessoa não grávida, podendo ou não evoluir para a forma hemorrágica.
Os riscos são diferentes para uma grávida? E o tratamento?
Devido às modificações do sistema imunológico materno durante o período gestacional, bem como a hemodiluição (diluição do sangue que ocorre fisiologicamente na gestação), o diagnóstico de complicações inerentes à dengue pode ser retardado por poder ser confundido com sintomas de complicações gestacionais rotineiras, como perdas sanguíneas vaginais e pela questão da hemodiluição acima referida, que atrasa o diagnóstico de hemoconcentração (o sangue fica mais espesso) ocasionado pela dengue e que é um dos primeiros sinais de complicação da doença e que podem evoluir para a forma hemorrágica. O tratamento é sintomático e a hidratação muito importante. Mas, se a gestante evolui para a forma hemorrágica, onde o número de plaquetas diminui e os riscos de hemorragia aumentam, a ocorrência de contrações ou a presença de hipertensão associada à gestação, por exemplo, podem levar a descolamentos placentário e a necessidade de intervenção para que a hemorragia seja controlada, levando, em algumas vezes, à interrupção da gestação.
Há algum período gestacional em que contrair a doença seja mais perigoso?
Pelos trabalhos encontrados, dois são os períodos mais críticos para a ocorrência da doença. O início da gestação e o seu final. No início, apesar dos índices de complicações serem menores, a perda gestacional (aborto) parece ser maior do que quando comparadas a gestantes não infectadas. Já no final da gestação, as complicações são mais frequentes para a gestante e a evolução para a forma hemorrágica mais significativa, além de poder levar a parto prematuro. Apesar desses indicadores, os trabalhos não são totalmente esclarecedores, pois destacam a necessidade de mais estudos para a confirmação desses dados.
E a prevenção para gestantes é igual para quem não está grávida?
Sim. A prevenção é igual, mas o principal é combater os focos onde o mosquito pode se reproduzir. A conscientização da população é muito importante.
Elas podem usar os mesmos repelentes?
Podem, mas entre os ditos naturais, como a citronela, e os industrializados (químicos). A preferência deve ser para os químicos industrializados. Mas, sempre com a autorização do obstetra que acompanha o pré—natal.
Quais são os produtos mais indicados?
Os produtos de uso tópico, à base de dietiltoluamida (DEET), com concentração entre 10% e 50%, são considerados seguros para as grávidas.
Eles não afetam a gestação?
São produtos seguros, mas, a utilização de outros cuidados, que ajudam a diminuir a exposição e risco, também devem ser tomados, como o uso de mosquiteiros, repelentes elétricos no quarto e mesmo o ar condicionado.