Sempre Materna

Depressão pós-parto é doença e requer muita atenção

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O nascimento de um filho é um acontecimento muito importante e significativo para a mulher e para o homem.
As modificações sofridas envolvem o organismo feminino como um todo, incluindo alterações hormonais, fisiológicas, sociais e familiares.
Com o parto, a vida tem outra dimensão. A passagem de filha para mãe simbólica e afetivamente já é uma grande revolução interna. Essa somatória de sintomas e mudanças gera o que a medicina chama de disforia de pós-parto ou blues ou maternity blues que não deve ser confundido com depressão.

Segundo especialistas, a diferença com depressão pós-parto está no grau de severidade e evolução dos sintomas que são bem menos intensos e mais breve.

De acordo com dados científicos, a incidência da depressão pós-parto é bastante elevada, chegando ao porcentual de 10 a 15% nas mulheres que amamentam.

E, acreditem, recente pesquisa realizada nos Estados Unidos constatou a existência da depressão paterna. De acordo com o estudo, muitos homens deprimem-se junto com as mulheres.

Para que você tenha muito mais conhecimento sobre esse importante assunto, a Revista Materna procurou a psicoterapeuta Ivete Halpern, que atua em dinâmicas familiares, gestação, relacionamentos e infertilidade.

 

O que é disforia de pós-parto ou blues ou maternity blues?

Trata-se de um conjunto de sintomas que surge no 3º ou 4º dia após o parto e desaparece em aproximadamente 2 semanas de forma espontânea. Tem como características labilidade, palavra, mudança de humor no decorrer do dia, choro imotivado, irritabilidade, indiferença afetiva em relação ao bebê, inquietação, cansaço, cefaléia. A disforia incide entre 50 a 85% das mulheres. Estes sintomas normalmente são insuficientes para causar prejuízo para a relação mãe-filho ou para a mãe. Quando os sintomas acentuam-se, semelhantes a outros momentos depressivos na vida, e podem atrapalhar a relação com o bebê e a qualidade de vida, temos que tomar providências.

E a depressão pós-parto (DPP) como pode ser descrita?

Considera-se como puerperal a depressão que se inicia até 12 meses após o parto. Em geral aparece em torno do 3º ou 4º mês. Os sintomas são desânimo, insônia, apatia, falta de alegria, de apetite (algumas puérperas têm aumento do sono e do apetite), não têm vontade de fazer coisas simples, tomar banho, ver TV, ler jornal. Há uma diminuição da energia, hostilidade e raiva ante o bebê e o companheiro, dificuldade de tomar decisões, idéias de morte ou suicídio, sentimento de autodesvalorização. Como isto ocorre em uma época trabalhosa, a sensação de culpa e de fracasso ficam maior, ela não se acha apta para cuidar do bebê, culpa-se por dar trabalho, auto-recriminase por não estar feliz quando “ter o filho” deveria ser um sonho realizado. As pessoas também esperam euforia e desprendimento. A sensação de impotência aumenta.

Qual a sua duração?

Uma depressão pós-parto dura, em média, seis meses, quando tratada.

Quais fatores podem contribuir para que a mulher sofra de DPP?

A falta de suporte emocional, familiar e social podem ser sinais de alerta para o assunto.

Outros itens que exigem atenção no histórico da paciente é seu tipo de personalidade, suas dificuldades conjugais, eventos de vida negativos durante a gestação ou próximo do parto e problemas de tireóide e emocionais maternos em relação à maternidade. Uma depressão de pós-parto pode ocorrer, mesmo que a gravidez ou o parto tenham ocorrido sem complicações, por causa das predisposições.

Qual a porcentagem de mulheres afetadas?

Entre 10 e 20%, ou seja, cerca de 400 mil mães por ano, no mundo, sofrem de depressão pós-parto.

 

Como a família pode ajudar na recuperação da mulher?

A família e o companheiro podem e devem colaborar utilizando mecanismos facilitadores neste processo, como o diálogo constante sobre a situação nova. A mulher não deve esperar que as pessoas em sua volta adivinhem a sua necessidade. O diálogo é fundamental. O auxílio de profissionais da área também é de grande valia, como o obstetra, o pediatra e o psicólogo.

Especialistas têm todo o embasamento para encontrar precocemente o tratamento para preservar a qualidade de vida de todos, desde que possam fazer o diagnóstico a partir da queixa da paciente.

É verdadeira a afirmação de que após o nascimento do bebê todas as mulheres sofrem de depressão leve?

Hoje a identidade feminina transita com mais tranqüilidade no aspecto profissional (até pelo momento social em que vivemos, onde os parceiros fazem parte do mercado de trabalho). Essa “parada” para a gestação, o reencontro com o feminino, às vezes adormecido, pode trazer angústias e medo frente às próprias capacidades. Mas isso não se considera uma depressão leve, apenas um “medo” do novo. Essa mulher que retarda hoje a maternidade gerou um aumento de gestações múltiplas. Os pais de múltiplos, em geral recebem ajuda insuficiente para administrar tanta demanda. A arte de amamentar dois ou três bebês é difícil de aprender e é comum a desinformação a respeito. Os problemas de choro se intensificam, sendo que a falta de apoio é um dos desencadeadores de processos depressivos. Na minha opinião, o caminho da maternidade é o “máximo” e a mulher deve ser cuidada e permitir-se cuidar, para que esse exercício possa ser vivido na sua plenitude, como sempre ocorreu. A beleza da vida humana não foi superada por nenhum desenvolvimento científico.

 

Então, os homens também podem sofrer de depressão pós-parto?

É fato, foi feita uma pesquisa nos USA sobre depressão paterna e constatou-se que muitos se deprimem junto com as mulheres, outros se sentem inseguros quanto à responsabilidade de garantir o sustento e a orientação que tiveram ou que gostariam de ter tido. Essa cobrança interna, muitas vezes, os afasta dos filhos e da família, deixando uma carência familiar grande que vai ser acentuada aos 5 anos, quando a criança pode apresentar problemas de alfabetização e de relacionamento. Mas, mesmo assim, acredito que o homem moderno está mais consciente e participativo do seu papel na educação dos filhos, conseguindo de forma positiva acentuar o vínculo pai/filho, usufruindo junto com a mulher. Temos estudos hoje também provando que a relação mãe-pai-filho norteia o desenvolvimento futuro.

Como é feito o tratamento da depressão?

Não há dúvidas que a psicoterapia é um ótimo caminho, pois a depressão afeta a mulher, como já foi dito, num todo. Não se restringindo apenas ao aspecto físico. Como existem muitos fatores psicológicos, ou fatores do cotidiano da vida da mulher que possam estar provocando ou perpetuando a depressão, terapias de apoio e cognitiva são importantes. Nas depressões mais graves, o medicamento deve ser utilizado, sem prejuízo do aleitamento, inclusive alguns deles podem ser ministrados durante a gestação. Apesar de vivermos no século 21, problemas e emoções não são valorizados pelas famílias. Desta forma, algumas mulheres e homens têm vergonha de dizer que sentem “tristeza” em um momento tão importante e valorizado, e assim retardam e dificultam o tratamento.