Já ouvi muitas mães se referindo ao início de vida do bebê como um período caótico, angustiante, relatando surpresa, pois não imaginavam o quão complicado e difícil pudesse ser esse período.
Gravidez tranquila não significa que o início de vida do bebê também possa sê-lo. Trata-se de um momento delicado, que requer preparo e adaptação. A chegada de um novo integrante à família seja ele primeiro filho ou não, de gestação múltipla ou até mesmo por adoção, necessita de paciência, tolerância e tempo para as coisas se acomodarem.
Percebo que a dependência absoluta do bebê assusta algumas pessoas. Ela pode mobilizar questões primitivas e profundas, das quais elas nem sempre têm consciência.
A relação com o bebê precisa ser construída. Ele não sabe nada a respeito do mundo e este lhe será apresentado inicialmente pela mãe (ou quem a substitua). A comunicação pode não ser fácil, principalmente nos primeiros dias de vida, e nem sempre é possível identificar com rapidez os sinais que ele dá. Essa relação requer tempo de convivência. O choro, que é a maneira que os bebês têm de se comunicarem com o mundo, pode ocorrer por inúmeros motivos e, nesse momento, é necessário ter calma e serenidade, para entender o que os bebês sinalizam e, a partir disso, atender às suas necessidades. Mas tudo isso seria simples, não fossem as inúmeras questões envolvidas nesse período inicial, como cansaço pela privação de sono, preocupações com o bem-estar do bebê, mudanças hormonais, aspectos da personalidade de cada um, e assim por diante. Não é fácil manter a calma com um bebê aos berros! Que mãe nunca se exasperou em situações como essa?
Contudo, tenho a dizer que vejo sempre uma saída – e isso não significa que as mães devam passar por esse momento sozinhas, enfrentando tanta angústia e sofrimento sem ajuda ou orientação.
Os bebês, no início de sua vida, necessitam que o mundo se adapte a eles, para que depois eles se adaptem ao mundo, a fim de se constituírem psiquicamente saudáveis. E esse início requer preparo, que deve ser feito não só no ambiente físico que vai acomodá-los, mas também internamente nos pais que devem estar preparados para sua chegada.
Acredito que quando os cuidados com o bebê são realizados do modo mais natural possível, maior segurança é transmitida a ele. Quanto mais a mãe estiver envolvida nos cuidados com o filho, que no princípio se resumem a amamentá-lo, trocá-lo, dar-lhe banho, acariciá-lo, embalá-lo, entre outros cuidados, mais chances ela terá de conhecê-lo e de satisfazer as necessidades dele, natural e espontaneamente.
Aprender a conhecer o recém-nascido, por meio de técnicas pode tornar mecânico o saber intuitivo das mães. Contudo, algumas informações podem mostrar-se preciosas, em especial quando se trata de “marinheiras de primeira viagem”.
No início da vida do bebê, a segurança da mãe é primordial. Tudo é novo, a teoria é uma e, na prática, as coisas podem acontecer de um jeito muito diferente. Entretanto, a linha entre o aprendizado obtido de fora e a intuição materna no convívio e na prestação de cuidados ao bebê pode ser próxima e complementar.
Fazer cursos preparatórios e psicoprofiláticos ainda na gestação ou buscar orientação de profissionais capacitados pode ser muito útil, principalmente na fase inicial de adaptação com o bebê.
Não há como exercer a maternidade sem conviver com os filhos, porém, a segurança adquirida com dicas, sugestões, cursos ou informações, pode facilitar bastante essa integração com o bebê.
Um bom início de vida é a garantia de saúde psíquica do indivíduo no futuro.
Fonte: Cynthia Boscovich – MAYARA RABELO
Psicóloga clínica, psicanalista, membro regular da sociedade brasileira de psicanálise winnicottiana.
Atua com adolescentes e adultos, além de desenvolver um trabalho específico com casais em tratamento de fertilidade, gestantes, mães e bebês e orientação de pais.
Consultório: Alameda Santos, 211 conj. 611 – Cerqueira César – São Paulo-SP
Tel: 11 5549-1021