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Encefalite rara é diagnosticada no Brasil

encefalite

A menina Grace Dacol, de 10 anos, nasceu no Canadá e há três anos mudou-se com a família para Curitiba. Bastante ativa e inteligente, fala fluentemente três línguas e sempre teve bom desempenho escolar, apesar da timidez.

Em agosto do ano passado, no entanto, seu comportamento começou a mudar. “Ela não conversava mais em casa, ficou mais isolada e achamos que era por causa da mudança de escola”, conta a mãe, Márcia Scherner Dacol. Aos poucos foram surgindo outros sintomas. A menina caia sem motivos e ao ser questionada sobre o que havia acontecido, ela dizia que as pernas não a obedeciam.

Depois vieram as fortes dores de cabeça, o que levou a família a sus peitar de uma gripe. A situação piorou quando ela entrou em pânico diante de uma escada que, sem nenhuma razão aparente, não conseguia descer.

Após uma das crises, ela foi levada ao Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. “Saiu de casa sem conseguir andar, mas quando chegamos ao hospital ela desceu do carro normalmente. “Eu falava com a médica que nos atendeu, mas ela não acreditava, pois a Grace parecia normal”, lembra a mãe.

Em poucos dias Grace começou a ter alguns tiques, como piscar sem parar e fazer caretas. E continuava a parar de andar repentinamente. Voltando ao hospital, os médicos iniciaram uma investigação sobre Lúpus, mas os resultados foram inconclusivos. Grace precisou ser internada e as crises se intensificaram, até que a menina foi para a UTI.

A neurologista Mara Lúcia Santos iniciou então a investigação de uma doença rara: a Encefalite anti-NMDAR (receptor N-methyl-D-aspartato), cujo primeiro diagnóstico no mundo foi feito nos Estados Unidos em 2007. Os materiais colhidos de Grace (sangue e liquor – líquido presente no cérebro) foram encaminhados para a Universidade da Pensilvânia e logo o diagnóstico estava confirmado. A menina era o primeiro caso da doença diagnosticado no Brasil. Desde então, outros dois casos foram diagnosticados no país.

A médica explica que a Encefalite anti-NMDAR é uma nova categoria da doença. Ao invés de inflamação aguda do cérebro, como a encefalite normal, a anti-NMDAR é uma doença autoimune com produção de anticorpos. “Depois do pico da psicose, a maioria dos pacientes desenvolve convulsões, seguidas de estado catatônico, diminuição do nível de consciência, hipoventilação central (ausência do controle automático da respiração), repetição involuntária dos músculos e sintomas autonômicos como bradicardia e taquicardia.”

O tratamento envolve medicamentos como corticóides, imunoglobulina, imunossupressores, entre outros, ao invés de somente antivirais e anbibióticos tradicionalmente prescritos para os casos de encefalite clássica.

A boa notícia é que o quadro é reversível. Grace já recebeu alta do hospital, recuperou os movimentos das pernas e dos braços, bem como a capacidade de falar e escrever. “Às vezes ela ainda tem alguns surtos, principalmente quando se assusta com alguma coisa, mas o quadro geral é bem melhor”, diz a mãe.

Segundo a médica, ela continuará o tratamento pelos próximos três anos. “Esse período é o que os médicos norte-americanos, pioneiros no diagnóstico da doença no mundo, têm recomendado. Porém, como a doença ainda é muito nova, só com o tempo e o maior conhecimento é que teremos mais respostas”, analisa.