Cefaléia freqüente, progressiva e de forte intensidade é a causa que mais leva os pais a procurarem um especialista
A dor de cabeça em crianças, a cefaléia, é mais comum do que se imagina. Seus sintomas podem aparecer de maneira inesperada, quando a criança está muito cansada, não se alimentou bem, não dormiu horas suficientes ou de maneira associada a processos agudos como otites, sinusites, meningites, traumatismo craniano. Mas o que fazer quando a dor persiste? “Na medida em que se torna freqüente, progressiva ou de forte intensidade começa a existir uma preocupação maior em se determinar sua causa”, diz o neuropediatra Paulo Breinis.
Muitos pacientes procuram diversas especialidades antes de ir ao consultório. O mais curioso é recorrer ao oftamologista, já que apenas 1% dos casos de dor de cabeça são de fato de origem oftamológica, completa o especialista.
A história clínica minuciosa contada pela família ou pelo próprio paciente é muito importante para o diagnóstico correto e deve incluir a época de início, localização, tipo de dor, freqüência, duração, intensidade, horário, modo de início, fenômenos concomitantes e fatores que pioram ou melhoram as dores. O doutor Paulo Breinis esclarece que exames complementares são desnecessários na maioria das vezes.
Segundo a IHS (International Headache Society), a cefaléia é classificada em três grandes grupos: as cefaléias primárias, as secundárias e as neuralgias ou dores faciais. As primárias são as mais freqüentes, são responsáveis por 80% a 90% dos casos e não tem uma causa definida, sendo os tipos mais comuns a cefaléia tensional e a enxaqueca.
A cefaléia tensional geralmente é desencadeada por problemas emocionais como briga entre colegas, separação dos pais, baixo rendimento escolar, etc. Está relacionada com estresse, ansiedade, depressão e fatores psicológicos associados. A dor é geralmente bilateral, nas têmporas e no pescoço. Pode durar minutos ou várias semanas. A orientação familiar é fundamental para uma melhora na rotina diária, sendo muito importante um acompanhamento psicológico. “Podemos usar medicações para controle da depressão e ansiedade de maneira profilática” explica o neuropediatra.
A enxaqueca, outro tipo de cefaléia primária, se caracteriza por episódios recorrentes de dor, cuja intensidade varia de moderada a forte. É freqüente na infância, em torno de 10%, mas salta para 15% a 25% na adolescência com predomínio no sexo feminino. A duração das dores varia de 2 a 72 horas, acompanhadas de náuseas, vômitos, fotofobia e fonofobia. Tem componente genético e incidência familiar importantes e melhora com repouso breve ou sono. Cabe ressaltar que muitos casos de dores abdominais recorrentes, vertigem paroxiscística e vômitos cíclicos em crianças de baixa faixa etária (chamadas de síndromes periódicas da infância), são consideradas como precursoras da enxaqueca.
O tratamento está baseado na melhoria da qualidade de vida, seus pilares fundamentais são: uma dieta adequada, coerentes horas de sono e exercícios físicos. Uma boa orientação familiar mostrando a benignidade do quadro é muitas vezes o suficiente para o sucesso terapêutico.
Apesar disso, existem casos em que a enxaqueca leva há um nítido comprometimento na rotina de vida dessas crianças. “Neste caso podemos associar drogas como flunarizina, pizotifeno, propanolol, topiramato e divalproato”, esclarece o Dr. Paulo Breinis.
Na fase aguda da cefaléia o tratamento é baseado no uso de analgésicos comuns, sem abusos, como a dipirona e o paracetamol, e antiinflamatórios não esteróides. Pode-se usar antieméticos, se houver vômitos. Poucas crianças necessitam ir ao pronto socorro para atendimento nestes casos.
Já as cefaléias secundárias ocorrem devido a uma lesão estrutural definida causada por inflamação, infecção, deslocamento ou destruição das estruturas que são sensíveis à dor. É o caso da meningite, da hidrocefalia, do tumor cerebral, e outras. Estas são bem menos freqüentes e devem receber tratamento individual e específico de acordo com o diagnóstico.
Extremamente raras são a neuralgias cranianas e as dores faciais na criança, sendo a mais comum a neuralgia do nervo trigêmeo. Seu tratamento pode ser com o uso de medicações e acupultura, podendo chegar, em casos extremos, a necessidade de uma descompressão cirúrgica.
Restrita a poucos especialistas no Brasil, a neuropediatria é uma área da Medicina que vem crescendo nos últimos anos. “Seus avanços significativos permitem diagnosticar e tratar muitas patologias desde o nascimento até a adolescência”, informa o neuropediatra.
Fonte:
Dr. Paulo Breinis – neuropediatra
Ceni – Centro Especializado em Neurologia Infantil