Sempre Materna

Incômodo que somente os garotões sabem como é

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Quem tem um menininho em casa ou está à espera de um deve ter milhões de expectativas e dúvidas com relação a este sexo. E não é para menos, afinal, alguns diagnósticos são exclusivos dos garotões, como é o caso da fimose, doença que acomete cerca de 18% das crianças até os 8 anos de idade. Embora muito comum, esse diagnóstico assusta mamães e papais. Aliás, muitos deles confundem a doença fimose com a necessidade da retirada total do prepúcio, conhecida como circuncisão e adotada pelos judeus e muçulmanos há 4 mil anos.

 

O cirurgião-pediatra Uenis Tannuri, professor da Faculdade de Medicina da USP, esclarece nesta entrevista as dúvidas mais freqüentes das mamães, sejam elas de primeira viagem ou não.

O que é fimose?
É uma condição muito comum provocada pela impossibilidade da exposição da cabeça do pipi da criança. Isso gera inúmeros desconfortos porque é o estreitamento do prepúcio, a pele que recobre a extremidade do pênis, denominada glande. Desta forma, fica impossível retrair a pele do pipi para que a higiene da glande fique completa.

Como ela ocorre?
De modo geral, o problema é congênito. Em alguns meninos, a pele pode se tornar estreita em virtude de infecções repetidas no prepúcio, denominadas postites.

Em qual faixa etária?
Na maioria dos recém-nascidos, normalmente a pele do prepúcio não se retrai para adequada exposição e limpeza da extremidade do pênis. No entanto, até o fim do primeiro ano de vida, poderá ocorrer espontaneamente a abertura desta pele. Portanto, a partir desta idade podese definir se a criança tem fimose.

Como a mamãe fica sabendo que seu filho tem fimose?
Durante o banho, quando tenta realizar a higiene do pipi, a mamãe percebe que a pele do prepúcio é tão estreita que não permite a exteriorização e limpeza da glande.

Uma dúvida: para abrir o prepúcio, exercícios e massagens são indicados?
Os exercícios e massagens constam de tentativas de exteriorização da extremidade do pênis para limpeza durante o banho. Devem ser feitos de maneira muito suave, sem trauma físico ou emocional para a criança. Julgo desaconselhável proceder o descolamento abrupto do prepúcio sem anestesia. Tal manobra é extremamente dolorosa, acarreta irritação local e produz grande trauma emocional à criança.

Como prevenir a fimose?
Lamentavelmente, não há como prevenir a fimose congênita. Em relação à adquirida, a melhor forma de prevenção é a higiene adequada do pênis, durante o banho com água morna e sabonete.

Qual é o tratamento mais adequado?
O tratamento mais adequado da fimose é a cirurgia, denominada postectomia ou circuncisão. Porém, há possibilidade de o prepúcio abrir sozinho com o passar dos meses. Nesse caso, existe um tratamento clínico à base de pomadas contendo corticosteróides.

Quando é necessário tratamento cirúrgico?
De modo geral, a cirurgia deve ser feita após o primeiro ano de vida. É desaconselhável postergar a época da cirurgia, pois, quanto mais jovem a criança, mais tranqüila será a recuperação pós-operatória.

Como os pais podem preparar seu filho para a cirurgia?
Devem explicar à criança o que realmente será realizado. Frases como “levaremos você para o hospital para fazer uma pequena cirurgia no pipi” de modo geral são bem aceitas pelas crianças.

Como é feita a cirurgia?
É importante explicar à mamãe e ao papai que a cirurgia não é nenhum bichode- sete-cabeças, embora a criança seja internada em um ambiente hospitalar. Não há motivos para maiores preocupações. A cirurgia é realizada sob anestesia geral, após jejum pelo período de 4 a 6 horas. A alta hospitalar é permitida 2 a 3 horas após o término da cirurgia, tempo suficiente para a recuperação da anestesia.

Como é o período de recuperação?
De modo geral, a recuperação é muito boa, sendo que após 5 a 6 dias a criança poderá voltar às suas atividades normais.

Com a fimose os meninos têm alguma dificuldade para fazer xixi?
O que pode acontecer, isso em casos mais graves, é a fimose fazer com que o menino urine em ‘dois turnos’, ou seja, sai o primeiro jato pela uretra, mas, à frente, encontra o ‘bolsão’ do prepúcio estreitando a passagem e fazendo com que o xixi saia mais fininho. Vale acrescentar que, com o acúmulo do xixi nesta região, devido à umidade, pode acontecer de crescerem no local fungos e bactérias, facilitando, assim, as infecções urinárias.

Nos meninos com fimose pode ocorrer acúmulo de alguma secreção no pipi?
Sim. Habitualmente, forma-se uma secreção branca, semelhante a uma massa, entre o prepúcio e a ponta do pipi, que não deve ser confundida com pus. Chama-se “esmegma”. Tal secreção é produzida pelas glândulas que normalmente existem na região.

A fimose impede ou prejudica o crescimento do pênis?
Essa é uma dúvida muito comum, principalmente entre os papais, mas, definitivamente, a fimose não prejudica em nada o crescimento do pênis.

O que podemos falar sobre a circuncisão? Ainda gera controvérsias?
A postectomia rotineira realizada no período neonatal é, habitualmente, conhecida por circuncisão. Pode ser indicada por motivos religiosos (judeus ou muçulmanos) ou por questões de tradição de povos ou famílias. A grande vantagem é que no recém-nascido pode ser realizada sob anestesia local, na maternidade, antes da alta hospitalar. É procedimento praticamente destituído de complica-
ções, com excelentes resultados. A controvérsia baseia-se no fato de que alguns meninos não necessitariam da cirurgia.

Existe algum dado sobre circuncisão e câncer de pênis, doenças sexualmente transmissíveis etc.?
Sim. Desde que a circuncisão permite melhor higiene do pênis, é compreensível e explicável a menor incidência de câncer de pênis e de doenças sexualmente transmissíveis (DST) em adultos previamente submetidos à circuncisão.

O que de pior pode acontecer se a fimose não for tratada?
O principal problema é a dificuldade de se proceder à higiene do pênis, o que traz, como conseqüência, infecções locais e do aparelho urinário. A retração aguda da pele do prepúcio poderá formar um anel de estrangulamento no pênis, condição esta denominada pára-fimose. Trata-se de situação emergencial, muito dolorosa, que se não adequadamente tratada poderá ter seqüelas graves.