Sempre Materna

Mudanças na rotina com a chegada do bebê favorecem esquecimento dos contraceptivos e aumentam chances de gestações com intervalos pequenos

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A gravidez é um momento importante da vida, que sensibiliza amigos e parentes de forma genuína. O sorriso carinhoso se torna fácil quando se pensa na chegada de um bebê. Mas esse momento especial muitas vezes vem acompanhado de comentários aflitivos sobre as já conhecidas dificuldades do pós-parto. As futuras noites mal dormidas, os cuidados necessários durante a madrugada, as incontáveis trocas de fralda ou a falta de tempo para a mulher se cuidar são apenas algumas das observações inseridas numa conversa que começou tão leve.

 

Por mais tranquila que seja a chegada do bebê, esses momentos são reais e acabam fazendo com que as mulheres se esqueçam de ações rotineiras, como tomar a pílula para evitar uma gravidez ou retornar às consultas pós-parto. Segundo estudos, 10 a 40% das mulheres faltam na primeira consulta após o nascimento do bebê, o que ajuda a resultar em uma gravidez não planejada[1].

 

Um dos motivos mais reportados aos médicos para uma gestação durante o puerpério – período em que a mulher deve manter alguns cuidados para atingir a completa recuperação do corpo – e que vai de encontro com o estudo é o esquecimento do anticoncepcional por causa da nova rotina. “O pós-parto é um período estressante, pois o casal está se adaptando a uma nova vida e os horários de descanso são escassos. A utilização de um método contraceptivo é mais uma atividade dentro desse contexto e, muitas vezes, acaba ficando para mais tarde ou sendo esquecida, impactando na eficácia do método e favorecendo uma gravidez não planejada em um período cheio de mudanças”, explica a ginecologista Ilza Maria Urbano Monteiro, da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas.

 

Além do impacto no dia a dia da família, intervalos intergestacionais são recomendados pelos médicos para evitar complicações, reduzindo o risco de mortes maternas e infantis. Quando os intervalos são pequenos, os riscos aumentam. Quando os bebês têm menos de 18 meses de diferença para o irmão, aumentam as chances de parto prematuro, de nascerem subnutridos ou até mesmo com paralisia cerebral. No caso das mães com intervalos intergestacionais menores que seis meses, as complicações variam de sangramento vaginal a anemia e morte1..

 

Para evitar uma gravidez não planejada nesse período, um detalhe muito importante deve ser considerado, o retorno da ovulação. Quando o corpo da mulher volta a liberar óvulo, ele está apto a engravidar novamente e a amamentação exclusiva é um fator que pode adiar esse momento.

 

Segundo a especialista, quando as mulheres amamentam os bebês exclusivamente com leite materno, o corpo demora mais tempo para retomar a ovulação, apenas em 20% dos casos o cenário é diferente. Porém, quando o bebê ingere fórmula (leite em pó) ou outros alimentos além do leite materno, esse percentual aumenta.

 

A ginecologista ainda complementa dizendo que é comum que as mães que não estão amamentando comecem a ovular mais cedo, em torno de 25 dias após o parto, e que, apesar das ovulações muito precoces não resultarem em gravidez, quando ocorrem 42 dias após o parto, podem levar a uma gestação sustentada. “Por isso, é sempre bom que a mulher fique atenta e converse com o médico para encontrar o método contraceptivo mais adequado ao seu perfil e momento de vida, esteja ela amamentando durante o pós-parto ou não”, alerta a Dra. Ilza.

 

Os métodos contraceptivos que não exigem lembrança e oferecem alta eficácia são os de longa ação. “Nos primeiros meses, que a mulher está focada no bebê, é mais difícil incluir uma atividade com hora marcada nessa rotina. Tornam-se interessantes métodos práticos, como o implante subcutâneo, o DIU de cobre ou o SIU (DIU com hormônio), que requerem troca apenas depois de alguns anos e são os métodos que apresentam a maior eficácia. Como nenhum deles contêm estrogênio, podem ser utilizados por quem está amamentando”, explica a médica.

 

A recuperação da fertilidade pré-existente ao uso de qualquer um desses métodos ocorre em seguida à retirada, permitindo que a mulher engravide após a próxima menstruação e tenha uma gravidez planejada, caso não haja fatores clínicos precedentes que dificultem a concepção[2].

 

Outra preocupação recorrente sobre a contracepção no pós-parto é a interferência na amamentação. Por isso, o campus da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto realizou uma pesquisa que comprovou que o implante subcutâneo no pós-parto não interfere na quantidade de leite produzida pela mãe. Além de não interferir na saúde do bebê, o anticoncepcional implantado também traz menos riscos de uma gestação seguida da outra1.

 

 

Conheça os contraceptivos de longa ação

 

Método

Implante de etonogestrel

DIU de levonorgestrel

DIU de cobre

O que é? Bastonete de 4 cm de comprimento que é colocado no braço da mulher com liberação de progesterona[3] Sistema intrauterino (SIU) com liberação do hormônio levonorgestrel4 Dispositivo intrauterino que libera cobre dentro do colo e da cavidade uterinos4
Onde é colocado? No braço não dominante, embaixo da pele3 Dentro do útero, na cavidade uterina4 Dentro do útero, na cavidade uterina4
Como funciona? A progesterona, hormônio contido no implante, é liberada gradualmente no organismo, com a função de inibir a ovulação, garantindo a contracepção e impedindo a gravidez3.  Deixa o muco do colo uterino muito espesso, dificultando a subida dos espermatozoides até a cavidade uterina, evitando sua chegada às trompas. 

 

Transforma o útero em um ambiente hostil aos espermatozoides, evitando sua chegada às trompas.
O cobre tem ação espermaticida, o que significa que ele destrói os espermatozoides, impedindo sua penetração no útero. 
Qual o tempo de ação? 3 anos3 5 anos4 10 anos4
Eficácia[4],[5] 99,95% 99,8%4 99,2%4
Risco de gravidez durante um ano4, 5 (uso típico) 0,05 (0,5 em mil) 0,2 (2 em mil) 0,8 (8 em mil)

 

 

Fonte: Ketchum



[1] BRAGA, Giordana Campos et al. Immediate postpartum initiation of etonogestrel-releasing implant: A randomized controlled trial on breastfeeding impact. Contraception, v. 92, n. 6, p. 536-542, 2015.

 

[2] World Health Organization department of Reproductive Health and Research (WHO/RHR) and Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health / Center for Communication Programs (CCP), INFO Project. Family planning: a global handbook for providers. Baltimore and Geneva: CCP and WHO, 2011. Acessado em 15/07/2016. Disponível em: http://www.who.int/reproductivehealth/publications/family_planning/9780978856304/en/

[3] Bula do produto

 

[4] RADHAKRISHNAN, Sheila. Family Planning. A global handbook for providers. Journal of Obstetrics and Gynaecology, v. 28, n. 5, p. 559-559, 2008.

[5] TRUSSELL, James. Contraceptive failure in the United States. Contraception, v. 83, n. 5, p. 397-404, 2011.