Sempre Materna

Mulheres no mercado de trabalho: como as empresas podem e devem valorizar suas colaboradoras

Profissional, esposa, dona de casa e mãe são alguns dos papéis que as mulheres precisam desempenhar em sua rotina. Apesar do cenário desigual, elas têm lutado constantemente para conseguir seu espaço no mercado de trabalho. Segundo o IBGE, hoje o Brasil possui 40,8 milhões de mulheres que trabalham no mercado formal, isso significa 43,8% dos trabalhadores.

Um estudo elaborado pela Organização Internacional do Trabalho – OIT – mostra que o aumento da presença feminina poderia injetar R$ 382 bilhões na economia brasileira. Mas conciliar o trabalho com a maternidade ainda é um desafio para muitas delas, por isso, é necessário que as empresas saibam como auxiliar e motivar a produtividade de suas colaboradoras.

Segundo Kátia Garcia, gerente de relacionamento com o cliente da Catho, “quando uma mulher se torna mãe, ela desenvolve ou potencializa habilidades que podem ser bem aproveitadas, como capacidades de comunicação e de liderança”.

As mulheres ainda ganham menos que os homens, mesmo quando estão na mesma área e ocupam os mesmos cargos que os profissionais do sexo masculino. Em meio a um cenário de avanço tecnológico que celebra a revolução das mais diversas áreas, é muito contraditória a desvantagem das mulheres. Isso pode ser conferido tanto por experiências reais nos mais variados ambientes como também pelos diversos casos que uma rápida busca no Google retornará. Por outro lado, você também encontrará, em meio às pesquisas, algumas histórias inspiradoras sobre a liderança feminina e a igualdade de gênero nas empresas, como apresentamos neste artigo.

Exemplos da desigualdade são apontados por Samantha McLaren, cujo texto foi escolhido pelo Talent, Blog do Linkedin. Nele, ela cita como os processos seletivos das empresas podem estar sendo surpreendentemente tendenciosos na contratação de homens em detrimento das mulheres no mercado de trabalho.

Vejamos alguns pontos:

Termos tendenciosos nos anúncios de emprego

Ainda que as empresas evitem ou suprimam o destaque de um gênero em suas chamadas, algumas descrições de cargo acabam dissuadindo as mulheres a se candidatarem.

 

Pode parecer bobeira, mas a verdade é que certas palavras carregam atribuições mais masculinas ou femininas por conta do uso social estereotipado. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Waterloo e Duke confirma que essas descrições acabam afastando as mulheres sem mesmo que elas entendam o porquê.

Adjetivos “de gênero”

O fato é que algumas qualidades colocadas como desejáveis pelo empregador, como “superior”, “decisivo” e “franco”, acabam apelando para qualidades do gênero masculino. Por outro lado, outras como “comunicativo”, “honesto” e “responsável” seriam correspondentes a atributos mais comumente associados ao gênero feminino.

O mais curioso é que, enquanto que as qualidades tipicamente masculinas afastam as mulheres, as femininas não atrapalham que os homens se candidatem, pois elas poderiam valer para ambos os sexos. Já as mulheres evitariam se colocar na condição de “franca” e “decisiva”, por vezes, pelo receio de estarem sendo encaradas como “mandonas” (e não como “superior”, como se veria o homem).

Foi justamente para evitar essa armadilha de termos que o engenheiro Kat Matfield criou um aplicativo gratuito e bastante interessante para “descodificar” os gêneros – o Gender Decoder for Job Ads.

Injustiças durante a contratação da mulher no mercado de trabalho

Outras pesquisas apontadas por Samantha McLaren confirmam uma experiência da qual ela própria teria sido vítima: durante as entrevistas de seleção, mulheres são mais interrompidas que os homens, chegando ao cúmulo de perderem a oportunidade de falar.

Essa situação seria constrangedora e bastante recorrente, inclusive, nos tribunais norte-americanos. Lá, 65,9% das interrupções registradas em 2015 foram dirigidas às três juízas da suprema corte, enquanto que elas seriam responsáveis por somente 4% de todas as interrupções ocorridas nos últimos 12 anos.

Além disso, alguns comportamentos que são encarados positivamente pelos entrevistadores na postura dos homens são, contraditoriamente, avaliados de forma negativa quando a mesma postura é apresentada por uma mulher.

Exemplos de impregnação

Focando na realidade brasileira, outros exemplos de como a socialização do gênero acaba impregnando as associações podem ser encontrados no Manual para o uso Não Sexista da Linguagem, da Secretaria da Cultura, cuja leitura recomendamos fortemente. No intuito de evitar tais armadilhas, além de atentar ao uso não sexista dos jargões, é importante criar padrões de entrevista que sejam aplicados sem diferenciação entre os gêneros. Você pode fazer isso a partir de conjuntos de questões semelhantes, sendo que essa estruturação poderá, ainda, acelerar e facilitar o processo de seleção.

Em relação ao tempo da entrevista, deve-se lembrar da cortesia de sempre deixar que a pessoa termine de se expressar antes de ser interrompida, e é sempre válido pensar, ao entrevistar uma mulher, se você estaria se comportando, julgando ou dizendo as mesmas coisas caso a pessoa sentada à sua frente fosse um homem.

A temperatura dos escritórios são projetadas para o conforto masculino

Parece difícil de acreditar, mas os ambientes de trabalho foram projetados sob a perspectiva masculina, de forma que ficasse confortável para a maioria (dos homens, é claro).

A temperatura do ar-condicionado, nesse sentido, está sempre ajustada para o uso de ternos e outros conjuntos masculinos que exigiriam clima mais frio. Já as roupas sociais femininas muitas vezes incluem saias e camisas de manga curta, o que as fariam sofrer nesses ambientes e se sentir bastante desconfortáveis durante as entrevistas de emprego.

Felizmente, este é um caso de fácil resolução: basta perguntar aos presentes se a temperatura está adequada – com um pouco de bom-senso, é possível criar um ambiente mais agradável a todos.

Diferenças também na hora de obter investimentos

Dando continuidade às desiguais recepções do homem e da mulher no mercado de trabalho, outra área de disparidade gritante é a de investimentos de risco. Uma pesquisa realizada por Dana Kanze e colaboradores para a Harvard Business Review revela que empreendedores de diferentes gêneros recebem diferentes questionamentos, afetando os valores de financiamento que eles conseguem obter. Assim, apesar de as mulheres empreendedoras dos Estados Unidos serem detentoras de 38% das empresas do país, representam apenas 2% do retorno dos investimentos de risco. Embora alguns acadêmicos e profissionais da área argumentem que essa diferença cairia conforme as mulheres avançassem mais no mercado de ações, de 2014 para cá o aumento de 4% na presença feminina não modificou o índice anterior – na verdade, a diferença só aumentou.

O vício dos questionários

Um dos maiores enganos dos investidores de risco estaria em aplicar questionários de maior estímulo de ganho aos homens e de maior prevenção de risco às mulheres. Isso estaria aumentando a lacuna entre os valores de retorno de investimento de um gênero e outro. O que eles ainda não entenderam, pelo visto, é que as mulheres empreendedoras são sinônimo de melhores resultados financeiros.

 

Fonte: Runrun It blog