O que não fazer na hora de corrigir os pequenos
Na comunicação entre pais e filhos, é fundamental que os pais compreendam esta verdade elementar, mas muitas vezes ignorada: a criança não é um mini adulto – ou seja, ela não funciona da mesma forma que o adulto, e a expressão verbal que lhe é dirigida tem de levar isso em conta. Uma vez que a criança está aprendendo a se comunicar, é preciso que os pais dêem o exemplo correto, comunicando-se de forma clara e com firmeza, possibilitando à criança, por sua vez, responder adequadamente a essa comunicação.
Há alguns comportamentos que os pais devem evitar ao interagir verbalmente com os filhos. Avalie se algum dos itens abaixo está presente em sua comunicação com seu filho – uma boa autoavaliação é indispensável para a correção de comportamentos que podem estar gerando conflitos em sua casa, prejudicando a harmonia familiar.
O que você deve evitar na comunicação com seu filho pequeno:
1. Perguntas retóricas: “Você ainda não se levantou?”, “Por que seu quarto ainda está bagunçado?”, “Por que você não presta atenção quando eu falo?”: essas perguntas não comunicam a seu filho um conteúdo claro, mas apenas o seu sentimento de insatisfação diante do comportamento dele. Procure, em vez disso, descrever a ação que você deseja ver realizada: “Levante-se, pegue o par de tênis e calce nos dois pés, agora”, “Guarde seus brinquedos no baú, agora”, “Filho, olhe para mim quando eu falar com você”. A intenção certa ao abordar uma criança é educar, e não extravasar uma insatisfação que possamos ter.
No caso de fazer um pedido, há um recurso que costuma funcionar muito bem, embora sua incorporação na fala cotidiana possa demandar certo esforço: trata-se de inserir o verbo querer na solicitação direcionada a seu filho. Por exemplo: “Filho, queira vestir seu casaco, por favor.” Com esse expediente, você reforça o estímulo sobre a vontade da criança, favorecendo que a obediência aconteça.
2. Frases que demonstram insegurança e falta de autocontrole: afirmações como: “Você me deixa louco!”, “Você acaba comigo!”, ou ameaças vazias – “Você me paga!”, “Você vai ver só!” –, além de não comunicarem nenhum comando e, por isso, serem totalmente ineficazes, transmitem a seu filho a impressão de que o pai é descontrolado. Se você não demonstra autocontrole, não deve esperar que seu filho o faça.
Outra coisa a evitar é a ameaça impossível – “Se você continuar assim, eu vou sumir daqui e nunca mais volto!” –, ou que não se cumprirá: “Se você não desligar esse videogame, eu vou doá-lo para um menino de rua!” Falar por falar enfraquece sua autoridade, acostumando seu filho a não levar a sério o que você diz.
3. Sentimentalismo com o fim de manipular o filho: apelar para a chantagem emocional, além de ser ineficaz, pode ser extremamente enervante para seu filho. Ao dizer, por exemplo, “Fico decepcionado quando você faz isso comigo”, você está comunicando apenas o desejo de que seu filho supra uma carência sua – algo complexo para que uma criança pequena entenda. Ou, ainda, afirmações como: “Você sabe que eu dou um duro danado, trabalho o dia inteiro, para chegar em casa e você me tratar desse jeito!”, “Na sua idade eu não tinha nada, e você tem tudo, mas não dá valor” – além de ineficazes, transferem a seu filho um ônus emocional desnecessário, fazendo-o sentir-se culpado por coisas das quais ele muitas vezes não tem culpa.
4. Dar sermão: a capacidade de atenção de uma criança pequena é limitada; em se tratando de um sermão, é quase inexistente. Se você passar quinze segundos explicando por que seu filho não pode desperdiçar a comida do prato, no quinto ele já terá desconectado e não processará mais nenhuma informação – no máximo, sentirá apenas tédio e um profundo desconforto, que se manifestarão através do choro. Por isso, procure outras maneiras de transmitir o que você deseja: no caso do resto de comida no prato, você pode aproveitar o momento em que testemunharem uma pessoa com necessidades básicas e lembrar a seu filho da importância de agradecer pelo alimento que se tem em casa.
5. Explicações desnecessárias: comandos acompanhados de muitas justificativas costumam ser ineficazes, fornecendo à criança elementos de oposição ou resistência. Dizer, por exemplo: “Filho, vá escovar os dentes, porque temos de ir para a cama, pois amanhã é um dia importante, é a formatura do seu primo que mora em Quixeramobim, e temos de sair cedo”, não fará com que seu filho fique mais motivado a escovar os dentes; pelo contrário, poderá gerar argumentações. A melhor política é ser breve: “Filho, você precisa escovar os dentes, agora.” Depois que ele tiver escovado os dentes, conte a história do primo que mora em Quixeramobim, que estudou tantos anos, que agora vai se formar etc. Assim, você evita criar uma conexão indevida entre ter de escovar os dentes e ter de fazer algo no dia seguinte.
6. Frases que rotulam o filho: dizer coisas como: “Você é muito desatencioso!”, “Você é muito desobediente!”, “Você não gosta de tomar banho, seu porquinho!” prejudica a autoestima da criança, servindo como um reforço da característica negativa, que tenderá assim a arraigar-se. Por isso, nada de rótulos – ainda que eles sejam positivos, como: “Meu filho é muito inteligente.” Ao elogiar, é melhor ser específico, elogiando isto ou aquilo que seu filho fez, do que alimentar sua vaidade com elogios genéricos dirigidos à autoimagem da criança.
Atente para a forma como você se dirige a seu filho. Mudanças pequenas e graduais na comunicação podem fazer uma enorme diferença! Se você quiser melhorar ainda mais a comunicação com seu filho e ter uma relação harmônica com ele, o primeiro passo é conhecer o temperamento dele e o seu também.
Fonte: comoeducarseusfilhos.com.br