Sempre Materna

Tem gente nova no pedaço

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A chegada de um bebê é motivo de alegria, mas também de muita mudança. Por isso, é fundamental que o casal esteja preparado

 

O casal resolve sair para jantar e pronto, basta escolher o restaurante. A previsão do tempo diz que o fim de semana será ensolarado. Vamos para a praia? Sim… Duas mudas de roupa numa pequena sacola, porta de casa fechada e rumo ao litoral. Depois que os filhos nascem, situações corriqueiras como essas descritas tornam-se mais difíceis, para não dizer impossíveis. Uma simples ida ao shopping necessita planejamento prévio, o que dirá então uma viagem. Por isso, a mudança na vida de um casal sem filhos para um casal com filhos exige maturidade, segurança e principalmente cumplicidade entre marido e mulher.

 

“A chegada de um filho gera um turbilhão de emoções no casal. Uma criança… Uma nova vida, perspectivas, sonhos…”, afirma a psicóloga clínica Ivete Halpern, que atua em dinâmicas familiares, gestação, relacionamentos e infertilidade. “Além disso, mudanças ocorrem no núcleo familiar. É um efeito cascata. Os avós tornam-se bisavós, os pais viram avós e os filhos assumem o papel de pais”. Esta mudança de identidades nos papéis familiares, no começo gera um pouco de confusão e por vezes atritos.

 

O jovem casal geralmente não está preparado para o volume de envolvimento que este novo ser acarreta. As influências familiares, via de regra e com a melhor das intenções, podem provocar desentendimentos por causa de conceitos e experiências diferentes que cada família viveu. “Uma avó diz ‘é bom dormir à tarde com a janela aberta, diferencia o dia e a noite’, já a outra diz ‘é bom fechar a janela, pois o bebê pensa que é noite e dorme mais’ e os pais ficam sem saber a quem dar ouvidos”, exemplifica a psicóloga. Muitas vezes quando o impasse ocorre, os pais tendem a tomar partido da própria família, gerando fofocas e intrigas. “Sugiro cumplicidade ao casal e o cuidado de estabelecer um diálogo com as famílias, procurando não gerar mal-entendidos desnecessários”, aconselha. Sem colocar um valor sobre o certo ou errado, o importante é ter bom senso nas decisões e adotar critérios pessoais auxiliados pela orientação dos profissionais da área, como pediatras, psicólogos e pedagogos. “A chegada do bebê é um marco fantástico e pequenas diferenças não devem atrapalhar a alegria”.

 

Outro ponto a ser destacado é a relação entre a chegada dos filhos e o relacionamento do casal. Se em alguns casos, o casamento melhora em outros muitos casais se separam depois do nascimento dos filhos. “Às vezes as pessoas colocam nas crianças a responsabilidade pela manutenção do casamento, o que é um fardo muito pesado para elas, que não têm preparo nem condições de exercer. Antes de tudo, o casal deve se respeitar e se amar independentemente dos filhos, pois assim eles podem ser livres”, diz dra. Ivete.

 

De acordo com a psicóloga, muitas vezes, a causa do fracasso do casamento é que alguns casais “vestem” o papel de pai / mãe e se afastam de própria identidade de homem / mulher, amigo / amante, levando a um distanciamento de linguagem, parceria e intimidade e com o passar dos anos, às vezes nem se reconhecem mais. Por isso, é importante viver cada papel de modo singular. Em muitos períodos da vida a hierarquia de valores precisa ser revista de maneira a atender a situações específicas, mas sempre deve ser respeitada. “Quando o casal é afinado nas atitudes, intimidades, e aqui não falo somente das sexuais, mas de pensamentos, desejos, sonhos etc., os dois estarão envolvidos no processo do nascimento”, afirma.

 

Também é comum em algumas situações, e de maneira incorreta muitas mães, pelo fato de terem mais prática no cuidado com o bebê, pela disponibilidade de tempo, licença-maternidade e amamentação, excluírem o pai do processo e dos cuidados. “De uma maneira totalmente contraditória, elas o afastam da vivência e em seguida se queixam de sua ausência”, explica Dra. Ivete. “A tríade pai x mãe x filho deve ser preservada e enaltecida”.

 

É importante lembrar que o nascimento da criança não traz consigo mudança da identidade anterior, isto é, os pais não deixaram de serem filhos e os avós não deixaram de ser pais, e não esquecendo também a relação com os amigos. “Depois de superados os primeiros meses da chegada do bebê em casa, com a ‘turbulência’ sadia de crescimento pessoal, de casal e familiar que isso acarreta, todos podem saborear e comemorar o grande ciclo da vida”, conclui a psicóloga.

Fonte: Dra. Ivete Halpern