De 61% a 95% das mulheres com mais de 40 anos submetidas à quimioterapia perdem a capacidade reprodutiva após o tratamento contra o câncer.
Transplante do tecido ovariano pode ajudá-las a preservar a fertilidade, mantendo viável o sonho da gravidez
Com o avanço da medicina, a expectativa de cura e sobrevida dos pacientes com câncer vem aumentando consideravelmente nos últimos anos. Contudo, quando o assunto é fertilidade após o tratamento, os dados ainda não são animadores: de 61% a 95% das mulheres com mais de 40 anos submetidas à quimioterapia por câncer de mama perdem a capacidade reprodutiva após o tratamento, entrando em menopausa. Essa perspectiva melhora um pouco quando elas apresentam menos de 40 anos – em torno de 18% a 61%.
Isso acontece, pois, procedimentos como a quimioterapia ou radioterapia interferem diretamente na qualidade e na quantidade dos óvulos, diminuindo inevitavelmente as chances de gravidez. Nesse sentido, um novo recurso surge como alternativa na preservação da fertilidade, mantendo viável o sonho das mulheres que almejam filhos no futuro: a criopreservação ou congelamento do tecido ovariano.
A técnica consiste na retirada de um pedaço ou metade do ovário. Em seguida, o tecido é congelado em nitrogênio líquido e pode permanecer assim por tempo indeterminado, já que não envelhece. É o que explica Giuliano Bedoschi, médico especialista em reprodução humana assistida e oncofertilidade:
– Caso o órgão remanescente tenha sido danificado durante a quimioterapia, o que ocorre na maioria dos casos, podemos realizar o reimplante do tecido ovariano. Como resultado, esperamos que o órgão retome suas funções hormonais e a paciente possa engravidar futuramente de forma natural ou por fertilização in vitro.
Estudo e casos de sucesso
Recentemente, Bedoschi fez parte de uma equipe médica que obteve grande sucesso no tratamento de preservação da fertilidade com a técnica de criopreservação do tecido ovariano. Os resultados do estudo foram publicados em janeiro de 2016, no American Journal of Obstetrics & Gynecology.
Duas pacientes – uma diagnosticada com uma doença hematológica e a segunda com linfoma de Hodgkin – realizaram o procedimento antes de serem submetidas à quimioterapia. Sete e doze anos depois, respectivamente, após estarem curadas, tiveram os ovários reimplantados. Além das funções endócrinas restabelecidas, conseguiram engravidar por fertilização in vitro, com gestações de sucesso e bebês nascidos vivos.
Bedoschi explica que, nestes casos, a opção pela criopreservação do ovário se deu pela urgência do médico oncologista para início do tratamento quimioterápico. “Ao contrário do congelamento de óvulos, a grande inovação dessa técnica é que ela é um procedimento cirúrgico mais rápido, que dispensa a preparação prévia e o tempo necessário para indução da ovulação, de 10 a 15 dias, em média”.
Novas possibilidades terapêuticas
O primeiro transplante de tecido ovariano bem sucedido e que resultou em gravidez ocorreu na Bélgica, em 2003. Desde então, ocorreram somente cerca de 60 nascimentos de bebês a partir dessa técnica ao redor do mundo. Por isso, a importância de pesquisas como as realizadas pelo Dr. Giuliano Bedoschi:
– Embora exista há mais de uma década, a criopreservação de tecido ovariano ganhou força apenas nos últimos anos por causa da maior conscientização sobre a importância de preservar a fertilidade frente aos tratamentos oncológicos. A expectativa, no entanto, é que novas possibilidades terapêuticas sejam indicadas para técnica, como para mulheres com síndrome de Turner e endometriose, condições que tendem a causar a perda precoce das funções ovarianas – finaliza o médico.
Fonte: Dr. Giuliano Bedoschi – Médico especialista em reprodução humana assistida